Muitos entendem que a performance midiática do presidente Jair Bolsonaro é planejada. Em parte é, sem dúvida. Bolsonaro tem noção do que faz. Ao mesmo tempo, em contrassenso alucinante, declarações suas revelam não ter noção do que diz. Mas a performance adotada por ele retira do foco questões escabrosas como as que envolvem Fabrício Queiroz, ex-assessor do pimpolho Flavio, e suas relações perigosas. Fabrício permanece em lugar incerto e não sabido e, inacreditavelmente, não é localizado. A performance também retira o foco de questões como funcionários fantasmas de outros tempos, como a Wal do Açaí, tema por assim dizer desconfortável para alguém que diz prezar “um novo jeito de fazer política”. Mas essa performance midiática também é, de outra parte, o estilo incontido e profundamente incorreto politicamente que Bolsonaro faz questão de liberar e de extravasar.
Assim, vão saindo declarações como de uma metralhadora giratória, para empregar uma imagem bem ao gosto do presidente. Ele atira para todos os lados – de novo a metáfora. Sem nenhum cuidado, filtros ou assepsia. Bolsonaro não tem filtros. Então surgem declarações escatológicas, como a que recomenda “fazer cocô” uma vez a cada dois dias para cuidar do meio ambiente, ou totalmente sem noção, como a que diz que “a questão ambiental só interessa aos veganos, que só comem vegetais”, desconsiderando todas as implicações: as ambientais propriamente ditas, as comerciais e de respeito aos veganos. Mais ainda, o presidente parece não ligar para o desconforto de um tema aparentemente relevante para ele, o já citado “novo jeito de fazer política”, seja lá o que isso queira dizer – acabar com a mamata, a negociata e o privilégio, quem sabe. Pois ele reiterou, no tom provocativo de sua predileção, um tópico do currículo apresentado por outro pimpolho, Eduardo, para se credenciar à embaixada de Washington. “Ele sabe fritar hambúrguer”, reforçou Bolsonaro, acrescentando que ele também sabe “entregar pizza muito bem”. Dizer o quê?
Agora em Pelotas, Bolsonaro voltou à carga contra os radares móveis e também os fixos, os chamados pardais, e foi fulminante: “Chega de estudiosos e especialistas.” Que recado para nossa juventude! Semana passada, o presidente atacou de Johnny Bravo, o personagem de desenho animado que se pretende gostosão. “Eu, Johnny Bravo, Jair Bolsonaro, ganhou, p***”. É a faceta mais pop, digamos assim, lúdica e palatável da performance de Bolsonaro, não menos reveladora da personalidade do presidente. Johnny Bravo, ao menos, permite falar sobre Bolsonaro sem atiçar o tom belicoso de costume.
Bolsonaro é Johnny Bravo, mas, ao mesmo tempo, evidenciou recentemente seu lado mais cruel ao presidente da OAB, Felipe Santa Cruz. Tudo isso é Jair Bolsonaro, que chegou pelo voto à Presidência da República.
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