Acredito que dá para conhecer muito bem uma pessoa só observando o que a faz rir. Nos últimos dias, alguns episódios de humor controverso só me levaram a acreditar que o riso pode tanto revelar inteligência quanto burrice da parte de quem ri ou, pior ainda, pode escancarar sérias falhas de caráter.
O primeiro caso aconteceu no programa de TV Saia Justa. A atriz Cláudia Raia, ao falar de seu ex-marido e hoje deputado Alexandre Frota, acabou cometendo uma indiscrição absurdamente vulgar sobre uma questão íntima e privada da cantora Marisa Monte – uma pessoa discretíssima que sempre deixou seu inquestionável talento falar por ela em vez de expor sua vida pessoal. O que mais me espantou foram os risos das apresentadoras do programa diante do comentário indiscreto e jocoso sobre a intimidade de outra mulher. Ninguém da bancada – incluindo a apresentadora Astrid Fontanelle – disse “Nossa, gente, isso não foi legal”. Houve os protocolares pedidos de desculpas no dia seguinte, mas as gargalhadas debochadas ficaram lá gravadas para a posteridade provando que talvez o papinho de feminismo e sororidade seja só isso mesmo: conversa fiada.
Outro caso absurdo de se tentar fazer graça num contexto totalmente inapropriado eu vi num comentário da matéria sobre a morte recente de Patrícia Kisser, esposa do guitarrista Andreas Kisser, um dos fundadores da banda Sepultura. Patrícia há anos lutava contra o câncer e partiu deixando o marido e três filhos. Para minha incredulidade, em meio a inúmeras mensagens de condolências, um completo idiota quis bancar o engraçadinho fazendo um trocadilho imbecil, inadequado e desumano usando o nome da banda de Kisser. Às vezes não dá para acreditar que alguém consiga fazer piada diante da dor de outra pessoa.
Mas, creiam, esse fundo do poço tem porão: um tal de Léo Lins, que se acha humorista, fez uma piada totalmente infeliz debochando de crianças nordestinas que sofrem de hidroencefalia. Usar o sofrimento dos outros para fazer comédia é coisa de gente doente, de uma pessoa muito ruim, ou, segundo a atriz Mila Ribeiro (uma excelente comediante, diga-se de passagem), é um sintoma de falta de repertório e de talento. Tripudiar do sofrimento alheio não é nada engraçado. O tal Lins acabou sendo demitido de um canal de televisão, e sua demissão levantou novamente uma questão controversa: existem limites para o humor ou isso seria censura?
Na verdade, todo mundo é livre para dizer o que quiser, mas vai ter que lidar com as consequências de seus atos. Contudo, o que mais me preocupa nem é o autor da piada de mau gosto, mas sim o que leva alguém a achar engraçado quando se debocha de uma situação trágica ou de questões totalmente íntimas e pessoais. Quem ri do sofrimento alheio pode ser qualquer coisa, menos boa pessoa.