Patricia Palermo é economista-chefe da Fecomércio-RS, mas já atuou por anos como economista da Fiergs e conhece de perto a realidade econômica caxiense, porque também tem casa na cidade e o marido atua no ramo industrial. Por isso, conversamos com a economista sobre a expectativa para a decisão do Comitê de Política Monetária, do Banco Central, que vai anunciar, nesta quarta-feira (21), a decisão sobre a taxa básica de juros da economia, a Selic. Patricia aposta no que a maioria dos analistas do mercado tem sinalizado, de que a taxa deverá ser mantida em 13,75% ao ano, mesmo com o arrefecimento da inflação nos últimos meses. Mas ela acredita que a ata do Copom, que deverá ser divulgada na sequência, deverá vir com o indicativo de queda para os próximos meses. Resta saber em que velocidade este cenário deve mudar.
Em função da economia da Serra ser baseada na indústria, a economista buscou dados, desde 2022, para entender em que cenários este setor foi melhor. Embora o juro mais baixo incentive investimentos e melhore o faturamento das empresas, a constatação de Patricia é que o desafio é muito maior do que a taxa Selic:
— Em geral, quando os juros estão menores, a indústria “respira”. E, quando estão maiores, ela dá uma contraída. Mas, nessa última década, já passamos por vários momentos de taxas altas e baixas, e a indústria, como um todo, não consegue deslanchar. Isso mostra que o juro é uma cereja em cima de um bolo de problemas da indústria — exemplifica a economista.
Patricia chama a atenção para questões estruturais, que vão além de aspectos conjunturais como inflação, juros, câmbio e outros indicadores da economia. Ela citou, por exemplo, a alta tributação, a ineficiência logística e a baixa produtividade. Mas ressaltou ainda a dificuldade de incorporação de tecnologias em toda a cadeia industrial agravada pelos juros altos para estes investimentos. E reforçou que a dificuldade de contratação de profissionais qualificados é outro desafio a ser superado.
Questões estruturais além da tributação
Segundo a economista, a sinalização de redução pode dar “suaves alívios” a uma pressão que há muito tempo esta sendo significativa. Mas ela acrescenta que, enquanto não forem tratados pontos nevrálgicos, poderão haver taxas de juros mais baixas e, mesmo assim, continuarão apontando outros problemas.
— A indústria mesmo “andando de lado” já tem problemas para expandir produção por conta das contratações, imagine se apresentasse um crescimento com potência. Seja qual for a decisão de hoje, será um pano frio sobre um corpo febril. Ele alivia a temperatura, mas só se cura o paciente com o ataque ao que está efetivamente causando a febre, que na indústria brasileira é uma lista de longa (e antiga) de motivos — alerta.