
Um negócio que começou com uma pequena lancheria no Centro de Caxias hoje conta com uma produção mensal que ultrapassa 200 toneladas de alimentos por mês, uma rede de cateferias com planos de expansão de chegar a 50 até 2025 no Sul do país e que ainda planeja levar um produto que é a cara do Brasil, o pão de queijo, para os Estados Unidos.
É a família Zanella, de Caxias do Sul, que administra um grupo que inclui a indústria Mundial Foods e a rede de cafeterias Doce Docê, entre outras marcas da holding, que incluem até mesmo uma empresa de logística e uma vinícola. No comando dessa farta mesa de produtos estão os irmãos Odete Terezinha Zanella, Suzete Maria Zanella, Ricardo Fabrício Zanella e o CEO, Gladimir José Zanella (na foto, à direita). Esse último é o que detalha, em entrevista a seguir, os planos de expansão:
Qual a origem do grupo?
É de 1979. O primeiro contato com negócios foi em Caxias do Sul, porque a família veio de Nova Roma do Sul. O pai e a mãe, na época, adquiriram uma lancheria ali na esquina da Rua Marquês do Herval com Os Dezoito do Forte perto do Colégio La Salle Carmo. Antes, eles trabalhavam na colônia, mas queriam que os filhos pudessem estudar. Por isso a família decidiu vir para Caxias e entrou no ramo de alimentação em que estamos até hoje.
Quais foram os primeiros produtos?
Mudaram muitos os hábitos. Naquela época se produzia basicamente o sanduíche simples. E fazíamos alguns bolos sem recheio. Com o passar do tempo, o próprio cliente foi exigindo mais. A gente foi percebendo essas mudanças e começamos a produzir tortas, doces e produtos mais elaborados.
Como se chamava essa primeira lancheria?
Monalisa, pois, quando nós compramos, ela já veio com o nome. A Doce Docê surgiu 10 anos depois com abertura da segunda unidade. E, como nós começamos a produzir doces e tortas, a nossa produção estava ficando maior do que a venda. Aí nós sentimos a necessidade de ter mais pontos de venda. A ideia do nome veio da expressão que lembra: “doce para você”.
E quais foram as primeiras unidades?
Em 1989 inauguramos a segunda unidade na Galeria do Pátio, que funcionou até 2015. Depois veio a do Shopping Prataviera em 1993, e a do Iguatemi (hoje Villagio Caxias), em 1996. As duas unidades no Centro e as dos shoppings foram as primeiras.
Quando sentiram a necessidade de ampliar a indústria de alimentos?
O início da indústria não veio porque nós precisávamos de volume, veio porque nós carecíamos de produtos diferenciados que o mercado não oferecia. E daí que nós começamos a montar a primeira indústria para atender a primeira lancheria. A gente percebeu que precisava ter a cadeia: tinha que ter indústria, que passou a se chamar Mundial Foods; a cadeia de lojas, que é a Doce Docê; e também o mercado. A gente atende desde uma pequena cafeteria de esquina até uma grande rede de supermercados, todos os canais de venda.
E como distribuíram todas essas frentes de trabalho?
Nós tivemos a primeira indústria no centro da cidade, em um lugar bem pequeno, que era nos fundos da primeira lancheria. Aí a primeira investida em parque industrial foi quando nos mudamos lá para o bairro Santa Catarina e fizemos uma planta. Tempos depois percebemos que nós tínhamos que ter duas indústrias, porque uma era especializada em confeitaria para atender a rede Doce Docê e, outra, para atender o mercado. Então, nós passamos a ter por 25 anos duas indústrias. Em 2018, inauguramos esse parque novo, centralizamos as duas e fizemos novamente uma só.
Qual a capacidade do atual parque fabril?
Esse projeto começou em 2012, quando a gente adquiriu a área que nós estamos aqui hoje, que tem 20 mil metros quadrados e são 12 mil de área construída. Como nós sabíamos que íamos unificar duas empresas, também sabíamos que tínhamos de ter uma dimensão para suportar essa junção. Como nós temos uma característica de produzir um número elevado de produtos – hoje produzimos em torno de 280 produtos - nós tínhamos que ter um espaço físico para produzir simultaneamente essa quantidade que envolve desde confeitaria, um pão de queijo, um pão especial para os nossos sanduíches, massa folhada, a placa de massa folhada, croissants, gelatos italianos e salgadinhos...
Da pequena lancheria para uma indústria que movimenta toneladas. Como manter a essência do negócio?
Se passaram quatro décadas da nossa primeira entrada no ramo de alimentos e realmente nos orgulha porque a gente chegou hoje em uma dimensão de em torno de 200 toneladas por mês de alimentos, mas que são produzidos em pequenos lotes em que a gente privilegia muito a qualidade.
Como é feita essa distribuição de mercado e qual o carro-chefe de vendas?
Hoje, os nossos canais de vendas são, principalmente, a rede de cafeterias Doce Docê em que são elaborados e produzidos produtos exclusivos. Mas, paralelo a isso, nós também fornecemos ao mercado em geral, como cafés, restaurantes e até grandes redes de supermercados. E hoje a gente atua nos três Estados do Sul. A Doce Docê é composta por 14 lojas e nós estamos com abertura já para mais sete agora em 2023. A gente tem um plano de chegar a 50 até 2025.
E neste ano quais são as regiões que vocês vão ocupar?
Hoje, nós já estamos nas cidades de Caxias do Sul, Canoas e Porto Alegre. Nós já temos franquias que vão abrir agora no próximo mês na região de Bento Gonçalves. E já temos mais quatro lojas em obras em Porto Alegre e Região Metropolitana. Hoje, a gente tem um centro de distribuição (CD) em Canoas. Quando se fala em crescimento da Mundial Foods, nós temos que ter uma preocupação com a logística de entrega. Como os produtos são todos ultracongelados, temos que ter o cuidado com a cadeia para esse produto sair da fábrica e chegar até o ponto de vendas sem perder a qualidade. Com essa expansão indo para Santa Catarina e Paraná, nós já estamos com projeto para abrir um CD em Santa Catarina e um CD em Curitiba para dar suporte a essas regiões que nós vamos atuar.
Hoje vocês são líderes de venda em que segmentos?
São dois produtos que ganharam destaque e têm uma importância dentro da nossa história, que é a placa para massa folhada e o pão de queijo. O pão de queijo é o queridinho, a gente vende muito e de várias gramaturas, de 20 até 100 gramas. E nós somos especialistas e líder de mercado em fornecer placas de massa folhada para as indústrias e os supermercados transformarem em produtos. A nossa massa folhada tem um reconhecimento pela qualidade e também pelo processo que a gente faz.
E o pão de queijo pode chegar no Exterior?
A gente está com um plano de expansão, inclusive, para exportação. Já estamos em tratativas bem adiantadas e talvez, até no segundo semestre, a gente chegue aí nos Estados Unidos com um pão de queijo genuinamente caxiense.
E ao mesmo tempo que pretendem exportar, vocês estão ampliando investimentos em um produto típico da Itália, o gelato. Quais são os lançamentos?
É um produto que nos deu bastante preocupação, mas nos deu felicidades também. Quando nós resolvemos fazer um gelato, e já são 10 anos que nós produzimos, nós não queríamos fazer mais um sorvete. Nós fomos buscar receitas, equipamentos e pessoas para fazer um gelato que lembrasse o italiano. Nós importamos a matéria-prima, nós importamos máquinas italianas e hoje nós conseguimos produzir um gelato italiano bem próximo do que se consome lá até por nós termos a matéria-prima e a assessoria técnica que eles nos fornecem. E o gelato vai ganhar bastante espaço dentro da nossa empresa porque, além de fornecer para a rede Doce Docê, nós vamos desenvolver embalagens para vender para o autosserviço.
Quando vocês pretendem colocar isso no mercado em geral?
Nós pretendemos também no início do segundo semestre. Aí por junho ou julho, nós já queremos ter esse gelato em tamanhos para ir para o autosserviço e, além da Doce Docê, vai ter nas redes de supermercados e lojas especializadas.
Quanto vocês estão investindo nessa expansão que a empresa tem feito nos últimos anos?
Quando nós inauguramos o parque fabril, lá em 2019, nós tivemos a pandemia e daí tivemos que reprogramar alguns investimentos. E agora a gente está retomando em um valor bem significativo, porque quando a gente fala em investir em equipamentos e em projetos grandes, a gente sempre leva junto contratações. Então, a gente está aumentando o nosso quadro de colaboradores e nós temos investimentos bem significativos para 2023 e 2024.
Qual é o quadro atual de profissionais e quanto vocês pretendem ampliar nos próximos anos?
Hoje, o quadro do grupo tem em torno de 250 colaboradores e, nos próximos 12 meses, o nosso plano é contratar mais 100 pessoas entre produção, logística e também os pontos de venda que a gente está abrindo. Vamos ter contratações em várias áreas e vários Estados.
E a família Zanella não administra só alimentos, também está no ramo de vinhos com uma vinícola em Antônio Prado que, inclusive, vai promover a Settimana in Cantina neste início de março em que permite que os participantes façam o seu próprio vinho. Como surgiu essa história?
A vinícola Zanella veio com as demais empresas porque a família sempre teve contato com a uva e com o vinho, desde os nossos avós. O ramo do vinho surgiu meio que de forma natural. Como nós somos uma indústria de alimentos, o vinho também a gente considera que é alimento. Então, na mesa da família não pode faltar vinho. E como tínhamos essa propriedade que veio dos pais e dos avós lá em Antônio Prado, a gente começou no ano de 2005 a fazer um projeto de vinho finos e de espumantes.
E hoje se passaram esses 17 anos e estamos muito felizes com esse projeto, porque nós estamos conseguindo elaborar vinhos reconhecidos com alta qualidade. E também o vinho sempre começa como um hobby, mas ele acaba virando um negócio porque tem valores investidos e pessoas envolvidas.