
O executivo do Instituto Hélice é Thomas Job Antunes, 36 anos, mas por ser referência em inovação e ter o sobrenome parecido com um dos personagens mais célebres da tecnologia mundial, é comum a brincadeira de ser chamado de Jobs. Natural de Porto Alegre, o jovem à frente do principal movimento colaborativo de inovação da Serra tem raízes na região.
Quando anunciou à família que se mudaria para Caxias do Sul, onde tem os avós maternos, Antunes ouviu que seria uma volta às origens. Assim como o executivo ajuda a dar um novo significado ao passado das empresas, acrescentando as mudanças necessárias para perpetuar o futuro, no mesmo ano em que começou a atuar no Hélice, também nasceu a filha caxiense Marina, três, fruto do casamento com Bruna Girardi Müller, 35.
A seguir, Thomas conta um pouco mais das experiências que alteraram sua vida, como a mudança para Caxias:
Onde estava antes de atuar na região?
Eu sempre procurei me posicionar em grandes empresas em Porto Alegre. Passei por processos seletivos de grandes marcas, sempre buscando fazer trainee ou estágio antes mesmo de me formar. Eu entendia que era uma grande oportunidade de me posicionar no mercado de trabalho. Mas eu chegava na última etapa do processo seletivo e nunca conseguia passar. Às vezes eram cinco etapas e, na última entrevista, eu não ia adiante. Naquela época, pediam muito a experiência no Exterior e fluência em idiomas. Então resolvi juntar tudo o que tinha e ir para Dublin, na Irlanda. Como lá o sotaque deles é carregado, sempre brinco que quem consegue aprender inglês na Irlanda, consegue aprender em qualquer lugar. Eu recém tinha me formado em Administração na PUC e, quando voltei, o dilema de se posicionar no mercado continuava o mesmo. Neste meio tempo, eu trabalhei como lanterninha do Cirque du Soleil na temporada em que esteve em Porto Alegre, em 2010.
E como surgiu o seu primeiro emprego fixo?
Eu já tinha contato com a Parceiros Voluntários desde antes do intercâmbio. Quando voltei, eu segui com esse trabalho. Depois de seis meses, abriu vaga de assistente administrativo e fui contratado. Quem me contratou na Parceiros foi o atual secretário de Planejamento, Governança e Gestão do Estado, Claudio Gastal, que me apresentou a importância de gestão de projetos. Fiz o MBA na área. Foi quando começamos a falar sobre inovação social. A partir daí, coloco o pé nesse tema. A gente costuma chamar essa área de atuação de terceiro setor, mas eu via um mundo a ser explorado nas empresas privadas. Comecei a olhar oportunidades e surgiu, no final de 2012, na Fiergs. Eles estavam começando a estruturar serviços para gestão da inovação. Começamos a ter um grande volume de atendimentos de indústrias da Serra. Em seis anos, conheci mais de 80 indústrias do Estado de diferentes portes. Em umas 40 delas atuei diretamente com serviços, mergulhei a fundo, conversei com muita gente, com donos de empresas, familiares, e entendi os desafios do setor, o perfil do empresário gaúcho, como dialogar com eles e colocar a inovação nas empresas.
O que te levou a Caxias?
Em 2018, eu estava sentindo falta de uma experiência na ponta, de vivenciar a inovação, não como consultor, mas fazendo de fato. E comecei a procurar oportunidades, especialmente fora de Porto Alegre. A Capital estava em momento triste, custo de vida alto, o varejo com muitos prédios para alugar, insegurança absurda. A gente pensava em estruturar uma família e começou a olhar para fora. Conversei com empresas de Chapecó (SC), Santa Cruz do Sul e da Serra, como Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Nova Petrópolis. Estava pensando em tentar Florianópolis (SC), quando surgiu uma oportunidade na Marcopolo. Era uma vaga na área de inovação. Neste mês está completando quatro anos que vim para cá para atuar bem na área que eu queria, onde tive muitos desafios de mudanças culturais. Me alertaram que o pessoal daqui era frio, mas para mim foi o contrário, fui muito bem recebido. Enquanto na Capital o dia começava mais tarde e faziam reuniões em que era tudo mais arrastado, em que para desenvolver uma ideia se levava meses, até mais de um ano, aqui foi tudo muito mais rápido. Aqui o povo é muito pragmático, sai de reuniões com algo definido.
Como surgiu o convite para assumir o Instituto Hélice?
Uma pessoa importante, que me trouxe para a Marcopolo, foi o Petras Amaral (executivo responsável pela Marcopolo Rail). Além dos projetos que estavam ocorrendo na Marcopolo, o Hélice estava começando na época. Toda relação de startups com a Marcopolo a partir do Hélice era eu e o Petras que representávamos. A experiência deu certo. No ano seguinte, em 2019, com esse mesmo grupo das quatro empresas que iniciaram o instituto, começamos a pensar como seria o Hélice mais estruturado. E decidimos configurar a parte administrativa. Precisava ter uma pessoa dedicada para isso. Como eu tinha participado de todo o processo, ajudado a construir, me convidaram para assumir esse papel. Foi um ato importante da própria Marcopolo de abrir mão de um profissional para ter alguém para administrar o instituto. O Hélice nasceu com CNPJ em julho de 2019. Em agosto, nascia minha filha, Marina.
Quais foram as principais conquistas nestes quatro anos de atuação do Hélice?
Primeiro, ele conquistou seu espaço com as próprias empresas, se provando válido. No início, se confundia com algo filantrópico, mas apostamos em gerar resultados para empresas, em ter serviços e benefícios para quem faz parte de uma rede colaborativa. O principal objetivo foi promover uma mudança cultural. Antes, as empresas não se falavam. Hoje, são 21 empresas com portas abertas. A gente não teve nenhuma desistência de empresas na pandemia e isso nos deu fôlego para começar a pensar no futuro. Em 2021, aumentamos a equipe, com demandas cada vez maiores. Por dois anos, conduzi sozinho. Hoje, somos em cinco. Um dos desafios que estão sendo executados é a escola de inovação. Temos vários desafios culturais: as empresas entenderam, os institutos de ensino também e estamos trabalhando com o poder público. Tivemos a criação da Lei de Inovação em Caxias e estamos levando para outros municípios. O próximo passo é a comunidade entender que inovação não é só coisa de empresa grande ou de pessoas geniais. Está no pequeno negócio e na pessoa querer fazer diferente. Não se trata de desconstruir e começar de novo, mas adicionar o que é preciso em uma cultura que já é muito inovadora. O “gringo” sempre foi muito pragmático, objetivo. A gente não faz projeções astronômicas, a gente constrói juntos.