Fabiane Veadrigo, 36 anos, vem de uma família que começou a fazer vinhos em Flores da Cunha em 1927. Foi no terreno herdado pela bisavó Maria Franzói que tudo começou, o mesmo porão de pedra que hoje abriga o restaurante da Famiglia Veadrigo às margens da RS-122. Viúva muito jovem, a matriarca começou com o filho Orlando a produzir vinhos de mesa, tradição que foi herdada pelo filho Fernandes João Veadrigo e a esposa Gabriela, e agora atualizada pela neta Fabiane que se tornou enóloga, agrônoma e sommelière.
Foi a partir da primeira formação que a credenciou a elaborar vinhos, em meados de 2000, que Fabiane decidiu importar as primeiras uvas finas da Itália. O que começou com algumas mudas de Cabernet Sauvignon hoje já ocupa mais de um terço da propriedade e origina mais de 10 rótulos de diferentes tipos de vinhos finos. O negócio familiar conta com 11 hectares. E estão sendo implantados mais três de uvas finas. A expansão das áreas de cultivo ocorreu depois de Fabiane abrir os horizontes em estágios em vinícolas nas regiões do Vêneto e Piemonte, e após o curso de Agronomia.
— Para ter um bom vinho, depende muito da uva. Sempre digo que milagre o enólogo não faz. Eu gosto bastante desta parte, mas hoje acabo ficando mais na parte burocrática e comercial. Agora, confesso, o que gosto mesmo é de tratar, de pegar o trator — conta Fabiane.
A propriedade foi também pioneira no enoturismo. A semente foi a Fenavindima. Fabiane foi rainha da festa em 2007. Foi quando a família foi procurada para fazer uma refeição típica italiana no porão da casa. No ano seguinte, estruturam a cozinha para que a proposta fosse estendida ao público. Em abril deste ano, foi inaugurada também uma área externa para ampliar os atendimentos, deixando de ser um espaço apenas para os almoços aos finais de semana, e atendendo de terça a sábado com tábuas de frios e propostas de refeições mais rápidas, além de degustação de vinhos. Quando questionada sobre suas principais recomendações, a ex-rainha da Fenavindima já elegeu seu trio de uvas soberanas:
— O nosso carro-chefe é um vinho rosé elaborado com Merlot e Shiraz, mas eu sou muito apaixonada por vinhos de uvas brancas. O Sauvignon Blanc eu gosto muito, mas a rainha mesmo vai ser a Chardonnay. O vinho está descansando em barricas para lançarmos no fim do ano.
A nova linha de produtos, que será a mais superior da vinícola, se chamará Le Donne, do italiano “as donas”.
— A terra da nonna iniciou a vinícola. Meu pai é o único homem de uma família com três irmãs. Ele teve três filhas e já vai ter cinco netas, porque minha irmã está grávida e é mais uma menina. Todas de personalidade forte. É uma forma de homenagear também todas as mulheres.
Fabiane lembra que, quando se formou enóloga, era uma das primeiras profissionais mulheres nesta área em Flores. Hoje, além de observar o crescimento delas no consumo, também destaca a participação no empreendedorismo.
Sua formação mais recente foi um MBA em gestão e economia do agronegócio. Fabiane está coordenando a expansão da vinícola. Um novo pavilhão, de cerca de 600 metros quadrados, tem previsão de inaugurar no ano que vem. Além de ser pensando para ampliar de 10 mil litros de vinhos finos/ano para 50 mil em até cinco anos, ele também será voltado ao enoturismo.
— Eu sou muito inquieta, estou sempre inventando coisas novas — destaca a dona.