Após temperaturas negativas, neve e geada na última semana na Serra, agora é que produtores estão conferindo o que conseguiram salvar de culturas precoces, como do pessegueiro, que estavam vulneráveis às baixas temperaturas. Diferentemente dos vinhedos, que estão em período de dormência, ou seja, que não têm danos porque não têm folhas ainda, essas frutas que brotaram mais cedo em razão do frio que chegou antes, seguido de um calor prolongado na primeira quinzena de julho, fizeram alguns agricultores recorrer a técnicas para amenizar os prejuízos. A seguir, confira o que é mito e o que é verdade em relação ao tema:
Mito
O vídeo que viralizou nas redes sociais mostrando diversos tambores pegando fogo, alinhados em um parreiral, para protegê-lo de uma suposta geada dizendo que a ação estaria ocorrendo no Rio Grande do Sul, na verdade, se tratava de uma imagem registrada na primavera deste ano na França. A informação fez, inclusive, a Secretaria da Agricultura do Estado divulgar uma nota explicado por que a ação não poderia estar ocorrendo no Estado:
— O método de combate à geada que aparece no vídeo pode ser utilizado, sim. A questão é que não poderia estar sendo usada neste momento no Rio Grande do Sul porque não temos videiras em brotação, com folhas, que é quando elas precisam ser protegidas das geadas — explica a pesquisadora Amanda Junges, do Centro de Pesquisa Carlos Gayer, em Veranópolis.
O enólogo Leandro Santini destaca, inclusive, que as características deste inverno, com oscilações térmicas extremas, ajudam na intensidade dos frutos.
— É nesse estágio de repouso que o metabolismo da videira concentra energias e recursos para entrar no período de brotação. A uva pode apresentar ganho de intensidade de coloração, sabores, aromas e, inclusive, de resveratrol, fenol responsável por uma série de benefícios à saúde — explica o especialista da vinícola Casa Perini.
Verdade
O uso da fumaça para impedir a formação de geada em videiras foi uma informação equivocada, mas técnica parecida foi utilizada para evitar perdas em outras culturas da Serra com brotação precoce. Fabrício Basso, proprietário da Basso Frutas com sede na localidade de Monte Bérico, no interior de Farroupilha, empreendeu pela primeira vez uma técnica que chamou de neblina artificial para tentar salvar 15 hectares de pomares de pêssego. No ano passado, a propriedade que tem como carro-chefe a produção da fruta, teve quebra de 95% da safra prevista de 450 toneladas. Para tentar evitar o prejuízo novamente neste ano, o produtor queimou óleo com ajuda de tratores e criou uma neblina para tentar conter o frio e a formação de geada, porém Basso disse que já percebe prejuízos.
— Eu fui olhar nesta segunda e queimou bastante, porque a temperatura foi muito baixa. Aí não tem técnica que segure. Acredito que pelo menos 50% dos pessegueiros foi afetado, mas precisamos aguardar os próximos dias para termos certeza — aponta o agricultor.
De acordo com engenheiro agrônomo do escritório regional da Emater, Enio Ângelo Todeschini, essa técnica da fumaça já foi muito utilizada no passado na região, mas vem perdendo força.
— Consiste em colocar uma camada de fumaça logo acima da plantação para reter a fuga do calor e inviabilizar a formação de geada, mas temos terrenos irregulares que não deixam ela ficar parada, sem contar que é muito difícil manter assim uma noite inteira — aponta Todeschini.
Verdade
Um sistema anti-geada que vem apresentando melhores resultados e que foi usado na semana passada por produtores da região é o de irrigação para congelamento das plantas. A família de Elimar Marin, com produção de pêssego no Travessão Barra, em Nova Pádua, utilizou o método que consistiu em adaptar o sistema que tinham para molhar os pomares a fim de que a água congelasse os brotos e frutas para preservar a planta até que as temperaturas voltassem a ser positivas.
— É o gelo protegendo do próprio congelamento. É como se fosse o soro antiofídico, o veneno de cobra protegendo contra o veneno de cobra — ilustra Todeschini, especialista da Emater.
Segundo o agricultor de Nova Pádua que empreendeu a técnica, uma primeira avaliação poucos dias depois da geada mostra que cerca de 90% dos dois dois hectares e meio plantados de pessegueiros foi preservado. Junto com a esposa Sirlei e o filho Sidnei, a família Marin colhe cerca de 100 toneladas de pêssego ao ano.
Embora a técnica de utilizar a irrigação para combater à geada seja uma das mais recomendadas por especialistas, ela não é tão utilizada porque depende de investimentos em irrigação. Mesmo quem já tinha a propriedade preparada, como a família Marin, tem um trabalho muito grande nos dias que antecedem o frio de inverter os aspersores para que a irrigação seja feita na parte aérea. É um trabalho manual, invertendo um por um os dispositivos que soltam a água.