Natural de Caxias do Sul, Alexandre Dorival Gazzi, 65 anos, entrou em 1976 nas Empresas Randon, passando por diversas áreas até chegar a ser vice-presidente do grupo. Aos 65 anos, deixou as atividades executivas em abril, mês de seu aniversário, mas também seus 45 anos de empresa.
A notícia oficial de sua saída foi uma das mais acessadas no Pioneiro no último mês, mas, no dia que assumiu como vice-presidente da companhia, há cinco anos, Gazzi já sabia quando iria se aposentar. A seguir, confira como foi este processo e os planos futuros.
Como foi a preparação para a saída das Empresas Randon?
Eu fiz parte da construção disso. Fiz 65 anos em 11 de abril. E nesse mês também foi quando entrei na Randon, em 22 de abril de 1976. Eu brinquei que queria sair nesse mesmo dia. E foi no dia 22 de abril de 2021 que fizeram a despedida, mais de 200 pessoas online, com surpresas, como o depoimento dos meus pais. Meu pai (Armelindo Gazzi) tem 92 anos. Minha mãe (Maria Antonieta) tem 87 anos. Fiquei muito emocionando de estar me aposentando com eles vivos. Tenho minha esposa Bernadete e três filhos (Eduardo, 38, André, 36, e Henrique, 28) e sei o quanto isso significa. Quando entrei no comitê executivo, eu sabia que aos 65 anos teria que sair. Quando me tornei vice-presidente, sabia disso, porque eu ajudei na política que desenvolvemos de saída de executivos com 65 anos. Eu chamo isso de finitude. Foi tudo, pensado, trabalhado, porque um dos meus acordos era ajudar a família a desenvolver novos executivos. E acredito que consegui deixar muita gente boa lá. Saí da executiva, mas fico ligado à Randon. Eu mantenho um vínculo como conselheiro das joint ventures e representante nas entidades de classe.
Com tantos anos, é como se Gazzi tivesse adquirido o próprio sobrenome da Randon. Mas como era o Gazzi da antes de entrar nela?
Nasci em Caxias do Sul e estudei aqui. Nunca saí da minha atividade executiva em Caxias. Tinha amigos da Zona do Cemitério, Vila Operária. Eles iam empalhar garrafão de vinho, e eu ia junto. Aos 15, dois amigos foram trabalhar de torneiro mecânicos. Aí eu perdi meus amigos de rua, eles tinham que trabalhar e ajudar a família. Foi quando pedi se tinha lugar para mim onde eles trabalhavam e consegui meu primeiro emprego na Mecânica Cecconello. Quando contei para o meu pai, ele me disse: “não tem problema, mas, se for mal nos estudos, eu te tiro do trabalho.” E esse foi meu primeiro grande ensinamento. Aí fui estudar à noite no Colégio Santa Catarina. O pai de um colega tinha uma tornearia no bairro e me convidou para trabalhar com ele, na J. Biondo.
Como foi parar na Randon?
Tinha alguns amigos da Randon que jogavam bola, iam comigo ao Autódromo de Tarumâ. Eu estava começando o curso de Engenharia Operacional Mecânica da UCS e disse a eles que gostaria de ter uma oportunidade na área. Mas abriu vaga no controle de qualidade e eu consegui entrar. A experiência prévia me ajudou muito. Aprendi muito em pequenas empresas, no chão de fábrica. Tinha que operar máquina, desmontar, fazer tudo. Os recursos eram escassos. Aquilo me fortaleceu.
Nestas mais de quatro décadas, quais foram os momentos mais desafiadores?
Quando entrei no setor de controle de qualidade da Randon, ela já exportava muito, especialmente para a África. Tinha que ter cuidado redobrado, porque um problema do outro lado da rua é mais fácil de corrigir, mas no norte da África não era fácil. O segundo momento, onde minha atuação ganhou corpo em ações na liderança, foi quando a companhia entrou em concordata, em 1982. Fui promovido a supervisor de controle de qualidade, o que foi uma mensagem clara: “precisamos contar com gente como você para liderar com escassez.” Não tínhamos recursos como se tem hoje. Agora, a Randon é extremamente estruturada, forte. A partir daí, participei de outros momentos marcantes, como o estudo de viabilidade para criar a Master, joint venture que completou 35 anos agora. Depois, ocupei uma posição de gerente de produção com 30 anos. Também quando fui diretor-executivo, tivemos que transferir em 30 dias uma boa parte da Randon para dentro da Suspensys. Na época tivemos que enfrentar desconfiança. Assim como foi quando implementamos estratégias de ampliar a autopeças para atender não só a Implementos, a empresa mãe, mas outras montadoras. E também destacar que, em 2009, quando o David (Randon) assumiu a presidência, eu subi para o comitê executivo. E aí veio o grande salto de reestruturação em 2015 por conta da crise. Tive que fechar unidade em São Paulo. Paramos obras de Araraquara, recomeçamos no ano seguinte. E tivemos outros grandes momentos mais recentes, como a abertura da Randon Peru e a Randon Triel-HT de Erechim.
E como será a aposentadora a partir de agora?
Eu sempre falei da importância do equilíbrio. É preciso ter sentido da finitude da vida. É como um jogador de futebol. Ele sabe que pode chegar aos 40 jogando, mas que a partir de 35 está em uma nova fase. Se prestar atenção nisso, começa a se preparar com 20 anos. Sigo atuando com as entidades de classe, voluntariado – eu e minha esposa Bernadete auxiliamos na Catedral de Caxias – e como conselheiro do Esporte Clube Juventude. Tenho negócios familiares na área de automação com os filhos. E tenho vários grupos de amigos, como um de empresários e executivos que conheci em um MBA na Fundação Dom Cabral. Nos formamos há 20 anos, e há 20 anos que nos encontramos três vezes ao ano. Então, estamos conversando sobre como ajudar outras pessoas, em repassar nossos ensinamentos, uma educação para a vida, muito mais do que só uma educação empresarial. Precisamos que o jovem tenha mais apetite para empreender. Não tem problema em ser empregado, desde que siga com muito profissionalismo. Precisamos incentivar o jovem a empreender seus projetos. Dá trabalho, dá medo, dá frio na barriga? Dá, mas se não tentares, já tem o não. É preciso procurar o sim.