Caxias do Sul vive em menos de nove meses a perda de seu segundo grande empresário. Em junho de 2017, a cidade chorava pela morte de Paulo Bellini, da Marcopolo. Agora, Raul Anselmo Randon, fundador das Empresas Randon, se despede, deixando um legado empresarial, humano e social imensuráveis.
Leia mais:
Morre Raul Randon, fundador das Empresas Randon
Velório de Raul Randon acontecerá no Memorial São José, em Caxias
Legado Randon é um dos motores da economia
- Eles são, sim, insubstituíveis – desabafou à colunista um profissional do setor.
A admiração a Seu Raul, como era chamado, decorre do fato de ter erguido um império industrial no ramo automotivo pesado, já que o grupo Randon nasceu como uma oficina e transformou-se na maior fabricante de implementos rodoviários da América Latina, com cerca de 8 mil funcionários.
Também transformou a paixão de infância pela área rural em case de sucesso no agronegócio, com a Rasip, de Vacaria, que hoje figura entre as maiores processadoras de maçãs do Brasil, ao lado de produtos da marca RAR como queijo Grana Padano, com leite de vacas holandesas importadas dos Estados Unidos, vinho, azeite de oliva e aceto balsâmico.
Raul Randon, ao lado do irmão Hercílio (já falecido), soube ter a percepção de que o transporte rodoviário brasileiro seria beneficiado pelo sucateamento das vias ferroviárias e pelo processo de industrialização, que substituiria caminhões importados pelos nacionais. Em 1949, nascia o embrião do que viria a ser o grupo Randon. Seu Raul impressionava a todos pela visão de negócio, pelo tino para investir (e reinvestir) e pela perspicácia em compreender o cenário econômico e o que o futuro reservava.
Soube tirar lições da crise, se erguer de uma concordata, e erigir um império industrial fundamentado em diretrizes como profissionalismo, estratégia, ética e visão de futuro. Impulsionou um grupo empresarial que conta com 14 fábricas ao redor do mundo, sendo que duas delas tinham previsão de serem inauguradas agora em março: uma em Araraquara (SP), com corte de fita marcado para o dia 28, e outra em Lima (Peru), com estreia projetada para o dia 15.
Seu Raul não contentou-se em gerar receita e empregos. Ele queria mais: e foi assim que fez brotar o Florescer, programa social voltado a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, que vem há 16 anos desabrochando a cidadania em jovens e virou franquia. Esse era seu grande orgulho. Num rompante de emoção, durante a apresentação musical alusiva aos 15 anos do projeto, no ano passado, o empresário esqueceu-se da bengala que usava e subiu ao palco para acarinhar seus apadrinhados.
Raul Randon nunca economizou na generosidade. Elevou seu grupo industrial entre os maiores do mundo reinvestindo o lucro na própria empresa, e não em sua vida pessoal. Pensava à frente, em tecnologia, em modernidade, em excelência. Nunca parou de planejar e executar.
Caxias do Sul não seria o que é sem a Randon e sem a Marcopolo. Elas colocaram a cidade no patamar de segundo maior polo automotivo do país, criando uma rede de fornecedores e faculdades preparadas para formar mão de obra. Com dinheiro na mão, esses trabalhadores e sistemistas impulsionaram o comércio e a área de serviços, numa engrenagem rumo ao progresso.
Raul Randon deixa a cidade, a indústria, as entidades empresariais, os trabalhadores e os empresários órfãos. Raul Randon e Paulo Bellini não cabem numa definição, num conceito. Foram homens de muitas facetas. Gigantes de um tempo. Raul Randon nos deixa aos 88 anos. Seu Paulo se despediu aos 90 anos. Ambos do segmento automotivo pesado, lideranças, de idades próximas, com atuações na mesma cidade.
Fica a sede de querer continuar bebendo na fonte da sabedoria autodidata, Na CIC, casa em que já foi presidente, Seu Raul afirmou no ano passado: “Pouco sentei em bancos de colégio, mas sentei no banco do trabalho.”
Seu Raul sempre soube cercar-se dos melhores profissionais, valorizava o estudo e a formação da qual não teve oportunidade, profissionalizou os filhos para serem seus herdeiros no conglomerado que criou.
Não trata-se da perda de um industrial, de um empresário, de um homem do agronegócio. Mas de uma era, de um ícone, de um mito. Suas sementes continuarão frutificando.
Gratidão Raul Anselmo Randon! Sua força e intuição para vencer são inspirações, permanecem no inconsciente coletivo de uma região. Seu sobrenome é sinônimo de progresso e desenvolvimento, e entra para a galeria de gigantes da nossa história.