Prestes a colher uma safra de uva de qualidade histórica, o agricultor Olir Schiavenin, à frente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Flores da Cunha e Nova Pádua desde 1986 e integrante da Comissão Interestadual da Uva, brinda a conquista neste mês da Medalha Mérito Florense, honraria concedida pela Câmara de Vereadores da cidade da Serra. Aos 63 anos, Schiavenin é homenageado por travar lutas em favor dos setores da uva e do alho. Confira a entrevista exclusiva conferida à coluna:
Caixa-Forte: O que significa esse reconhecimento?
Olir Schiavenin: Significa um gesto sublime de gratidão da Câmara de Vereadores e do povo florense a uma pessoa humilde do interior que sempre procurou se dedicar com muito empenho para o bem da sociedade. Sempre procurei trabalhar para o bem de todos com muita dedicação e vontade, não medindo esforços para buscar a melhoria da qualidade de vida das famílias que represento.
Como avalia as conquistas do setor vitivinícola?
O setor vitivinícola avançou muito nos últimos anos. É um setor bem organizado. Possui entidades sérias e atuantes que desempenham um trabalho exemplar buscando o ordenamento, o crescimento e o desenvolvimento. Os produtores de uva, bem como as vinícolas e cooperativas, têm evoluído muito. Em termos de inovação e tecnologia, não perdemos em nada se comparado a países mais tradicionais na produção de uvas, vinhos e derivados. As mais recentes conquistas foram a inclusão das vinícolas no Simples Nacional e o acordo sobre o preço mínimo da uva para esta safra, numa demonstração de que o setor está consciente de que precisamos manter uma relação harmoniosa pensando em todos os elos da cadeia produtiva e na sua sustentabilidade. Para sermos mais competitivos, precisamos enxergar o setor analisando o mercado mundial sob todos os aspectos e introduzir as mudanças necessárias para que possamos atingir os objetivos.
Quais as dificuldades do setor da uva e do vinho?
Entre os principais problemas do setor estão alto preço dos insumos usados na produção agrícola e na vinificação; carga tributária elevadíssima; importações desenfreadas; contrabando de vinhos e espumantes; doenças e pragas da videira e, consequentemente, declínio dos parreirais; baixa remuneração aos produtores de uva; êxodo rural; mão de obra cara e escassa; e desestímulo dos jovens em permanecer na atividade rural. O clima ajudou a produção de uva.
Mas a concorrência vinda de fora preocupa?
Sim, o clima está colaborando nesta safra. O estado de sanidade das videiras e da uva é excelente. Se continuar assim, teremos uma safra de boa qualidade. A quantidade de vinhos importados é assustadora. Praticamente 80% do vinho fino consumido no país é importado. O custo de produção e a carga tributária incidente sobre nossos produtos fazem com que o vinho importado, muitas vezes de baixa qualidade, ingresse no Brasil a preços bem mais atrativos. Outro problema sério são as importações diretas por grandes redes de supermercados, prejudicando a competitividade nacional.
E na questão do alho, quais as lacunas e as batalhas?
No setor do alho, a principal luta da Associação Gaúcha e Nacional dos Produtores de Alho é a manutenção da taxa antidumping no valor de US$ 7,8 a caixa de 10 quilos incidente sobre o alho oriundo da China, que abastece o nosso país com 50% do alho consumido. A segunda batalha é a manutenção do produto na Lista de Exceções da Tarifa Externa Comum, cuja taxa de importação para os produtos que constam nessa lista é de 35%, e não de 10%, como é cobrada para os demais produtos importados. Estamos batalhando também no sentido de combater a triangulação, a sonegação fiscal e o contrabando. E realizando um controle rigoroso das liminares judiciais fornecidas aos importadores para não pagarem taxas de importação.
O preço mínimo da uva agradou?
Sobre o acordo do preço mínimo da uva deste ano faço uma análise sob dois aspectos: primeiro, se considerarmos o percentual de 18% repassado em cima do preço do ano passado, concluímos que foi um avanço significativo, pois repassamos, além da inflação, mais 10% de ganho real. Segundo: analisando o valor em si, que passou de R$ 0,78 para R$ 0,92 o quilo, o valor fica bem abaixo do custo de produção, que passa de R$ 1,30. Isso porque, infelizmente, por vários anos, o preço mínimo não sofreu reajuste nenhum. Sabemos que o produtor precisa e merece receber mais do que centavos por um quilo de uva. O trabalho do produtor de uva tem de ser mais valorizado para que as famílias se sintam estimuladas a produzir. Acredito, torço e luto para que o produtor nesta safra receba mais do que o preço mínimo. Os estoques de vinhos e derivados estão muito baixos e a uva terá bastante procura.
O que espera do novo governo federal?
Infelizmente, não vejo muitas perspectivas de melhora da economia. Esse governo nos envergonha, pois está atolado na lama da corrupção e, por isso, não tem moral para propor as mudanças necessárias. Perdeu a credibilidade do povo brasileiro. Deveríamos ter eleições diretas o quanto antes e permitir que só sejam candidatos os que provarem que têm ficha limpa. O que diria às novas gerações que já não querem mais ficar no campo?Para os jovens, digo que a atividade agrícola pode ser rentável e que existem incentivos que auxiliam o setor primário. Mas, para isso, precisamos inovar, buscar o conhecimento e a formação. Trabalhar com planejamento e gestão da propriedade. Diversificar a produção, agregar valor ao produto. Acreditar na organização e na força do cooperativismo. Que a agricultura é a mais nobre das profissões, pois ela produz o alimento que é vida para a população.
Caixa-Forte
"A agricultura é a mais nobre das profissões"
Olir Schiavenin brinda a conquista neste mês da Medalha Mérito Florense
Silvana Toazza
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