Caxiense, mas radicado há 20 anos na África, o empresário Marcos Brandalise coordenou uma delegação de oito executivos africanos, provenientes de países como Quênia, Ruanda e Tanzânia, que esteve em Caxias na sexta-feira, onde participou de rodadas de negócios no Simecs.
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Em tempos de retração no mercado doméstico, a presença de industriais de fora surge como oportunidade de costurar parcerias de negócios envolvendo as empresas dos segmentos automotivo, eletroeletrônico e metalmecânico da Serra, uma vez que a África tem profunda carência estrutural. A visita ao Brasil foi organizada por Brandalise, diretor da empresa Brazafric. Em entrevista à coluna, ele fala das perspectivas e de como a Serra pode explorar essa rota africana.
Caixa-Forte: De que forma se dariam as parcerias entre os empresários africanos e os da Serra gaúcha?
Marcos Brandalise: Os empresários dessa missão têm interesse em conhecer a capacidade e a qualidade dos produtos brasileiros com a intenção de comprá-los, alguns para seus próprios negócios, outros para revenda. No contexto geral do continente, as oportunidades são imensas e em todos os setores. O Brasil ainda desconhece e de certa forma teme a África devido a negociações de pouco sucesso no continente no passado. O momento é outro, e o africano procura alternativas aos fornecedores e investidores tradicionais, como Europa, Estados Unidos, além de países asiáticos. Todos esses estão extremamente ativos e investindo na África de várias maneiras. Não podemos perder o trem. O momento é de entrar e mostrar o que o Brasil tem. Precisamos de mais agressividade do empresário em geral e mais apoio governamental para abrirmos as portas.
O momento, com o dólar ainda favorável, seria ideal para as empresas da Serra exportarem para a África?
Afirmativo. O momento é bom para o produto brasileiro devido à competitividade em relação ao dólar. Assim como o momento da África é muito especial com uma leva de interesse em investimentos em todos os setores. Os empresários africanos estão investindo para o desenvolvimento de seus países e aproveitando as oportunidades existentes. Só precisamos cuidar do produtor brasileiro "paraquedista", que se aproveita quando o mercado no Brasil está fraco e vê a exportação como colete salva-vidas. Quando o mercado nacional melhora, eles abandonam o Exterior, deixando uma má impressão a importadores e consumidores. Exportação tem de ser política de trabalho, não somente um momento de oportunidade.
Que carências estruturais seriam essas e como a Serra poderia explorar um novo nicho de mercado para diversificar sua atuação em um momento de tanta dificuldade no mercado doméstico?
As oportunidades são inúmeras e em todos os setores. O trabalho de nosso grupo, Brazafric, é direcionado aos setores de agricultura e construção civil. Algo em infraestrutura também. Mas as oportunidades são abundantes. Assim, o melhor caminho é o do conhecimento, do ver por si mesmo. É preciso viajar e verificar in loco as oportunidades. Assim como os africanos se surpreendem com o que veem no Brasil, o mesmo acontece com empresários brasileiros que nos visitam e ficam surpresos com o que está se passando em muitos países africanos. Precisamos desfazer o mito sobre as dificuldades em operar na África.
Hoje, como são os negócios entre Caxias (Serra) e o continente africano, e qual o potencial de crescimento?
O grupo Brazafric já tem parcerias com a Perfilline na construção civil e mais algumas empresas da região neste setor. Na agricultura, os principais parceiros da Serra são Agrale e Lavrale. Entretanto, também cooperamos com a Randon e a Marcopolo procurando oportunidades pontuais em algumas áreas. Notamos, nos últimos anos, um crescimento considerável de empresários brasileiros visitando nossa região à procura de oportunidades. O potencial de crescimento é excepcional.
A África está num momento excelente, pelo menos os países em que atuamos com escritórios próprios (Quênia, Tanzânia, Uganda, Etiópia, Ruanda e Moçambique). O leste africano possui uma população de mais 250 milhões de pessoas, uma classe média em ascensão e seus PIBs crescendo entre 5% e 10% ao ano. O grupo Brazafric, por meio do escritório em Caxias do Sul, atua nestes mercados há mais de 20 anos, auxiliando em estudos de mercado e parcerias para exportação. A cada dois anos, organizamos uma feira, estritamente para empresas brasileiras, no leste africano, na cidade de Nairobi. Já vamos para a 4ª edição em junho de 2017.
Caixa-Forte
"Não podemos perder o trem", diz empresário sobre negócios com a África
Marcos Brandalise, caxiense radicado há 20 anos na África, afirma que é preciso desfazer mito que cerca negociações com aquele continente
Silvana Toazza
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