As ações para aumentar a autonomia do Brasil em diversas frentes tecnológicas foram o eixo da fala de Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação durante o programa Bom Dia, Ministra, da Empresa Brasileira de Comunicações (EBC), na manhã desta quinta-feira (1º). Ela foi entrevistada por jornalistas de diversas partes do país, e eu participei representando a Rádio Gaúcha Serra.
E entre as iniciativas prioritárias, uma empresa sediada no RS deve ter um papel central. Trata-se do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), uma estatal instalada em Porto Alegre e única fábrica brasileira de chips, e que está passando por um processo de retomada. A companhia havia entrado em liquidação durante a gestão de Jair Bolsonaro, e em 2023 teve este processo cancelado, com a retomada das atividades.
A ministra esteve em Porto Alegre em 14 de novembro do ano passado, quando as atividades da empresa foram oficialmente retomadas. Desde então está sendo feito um processo de reestruturação financeira e de pessoal, e a expectativa é que a produção volte ainda neste ano.
Luciana ressaltou que a unidade é parte fundamental do complexo nacional de pesquisa de semicondutores, que embora tenha laboratórios espalhados pelo país, dispõe apenas da planta industrial do Ceitec para fabricar esses componentes. A ideia, além de diminuir a dependência brasileira da importação de semicondutores, é direcionar a atuação da empresa para duas rotas tecnológicas consideradas centrais pelo governo, que são o setor automotivo e a transição energética.
— Nossa vocação vai ser o setor automotivo, para poder produzir semicondutores para os modelos híbridos, que vão ser a principal opção do Brasil, na junção biocombustível com o elétrico. Esta é a rota que estamos abraçando, e que é de médio e longo prazo para a transição que o setor automotivo está passando. E também para a transição energética, onde o Brasil já lidera a geração de energias renováveis — informou a ministra.
Um total de R$ 116 milhões foram reservados para a retomada da empresa. Segundo a ministra, a recomposição orçamentária já está acontecendo, e um projeto que concede créditos suplementares já está em tramitação no Congresso Nacional.
Outra questão abordada durante a entrevista foi o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, entregue pelo MCTI ao presidente Lula na última terça-feira (30). A ministra ressaltou que há uma corrida tecnológica entre empresas e nações, e que o Brasil precisa se inserir neste debate, conhecendo os riscos e buscando aproveitar as oportunidades oferecidas. Além do uso nas mais variadas atividades, inclusive no serviço público, a ressaltou a perspectiva do plano ajudar na análise dos impactos no setor de emprego:
— Ele (o plano) pode melhorar a vida do povo brasileiro, em um processo de inclusão e soluções na saúde e na educação, e por isso mesmo ele precisa ser brasileiro, antes de tudo. Nós temos muitas soluções de IA, mas elas são de fora, e nem a nossa língua falam. Nós também temos que enfrentar o impacto no emprego, e por isso o plano existe, para dar respostas a isso, para focar onde terá mais impacto e apontar novas oportunidades.
Outra questão apontada como prioritária pela ministra é a necessidade de fortalecer o complexo industrial da saúde, com o objetivo de que, no futuro, aumente a quantidade de insumos nacionais na saúde pública. Isso também teria impacto na balança comercial do país, pois este setor apresenta hoje um déficit anual de R$ 20 bilhões. Segundo Luciana, R$ 2 bilhões foram investidos na área, focando no incentivo à produção de fármacos, soluções e equipamentos.