As amoras aos poucos amadurecem. Assim como as pitangas e as cerejas. É tempo de frutas maduras. Frutas cheinhas de sol e estações. Amadurecer é um processo longo e delicado. É preciso tempo, poda, rega, noite, sol, chuva e fé. É preciso acreditar sem reservas. É preciso paciência, educação e capacidade de frustração. As plantas também se frustram, sabia? Mas assim como nem todas as amoras amadurecem e algumas ficam azedas, as pessoas, também. E quanto azedume. Algumas frutas ficam verdes para sempre. Outras até apodrecem sem nem ao menos terem amadurado um pouco. Nada é tão gostoso quanto encontrar uma amora bem madura. Ela é doce, mas principalmente, civilizada. No entanto, uma amora verde azeda o dia de qualquer um que estiver por perto. Do mesmo modo, algumas pessoas demoram para amadurecer, enquanto outras ficarão verdes. E isso não tem nada a ver com a idade. Não é porque se envelhece que se fica mais doce. Às vezes, é justamente o contrário. Para amadurecer, as amoras descobriram que precisam aprender a aceitar o que o tempo tem para ensinar. Às vezes o sol é forte demais, às vezes as chuvas são incessantes. Há uma linguagem que se constrói de dentro para fora. Aprendizado. Lembro de Rubem Alves, pois as palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos. Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Quando a gente abre os olhos, abrem-se as janelas do corpo e o mundo aparece refletido dentro da gente. E o que você tem refletido?
Observo as amoras, gosto delas, apesar de serem de difícil cultivo, pois os pulgões as adoram e seus espinhos dão um jeito de machucar quando se tenta chegar perto. Amoras verdes são amoras agônicas. Tentam, tentam amadurecer, mas há algo por dentro que não as deixam seguir seu curso. É um sofrimento insano. Enquanto todas as outras ao redor já trocaram de cor e se enchem de doce, as amoras verdes permanecem agarradas as certezas de estarem certas por assim serem, verdes e azedas. Amoras verdes sofrem de perseguição, são as formigas, os pulgões, as cochonilhas, tudo é uma grande ameaça. Nada é do modo como elas querem que seja. Amoras verdes são imaturas. Imagino as plantinhas se jogando de um lado para outro, se debatendo contra os males dos inseticidas. Não são capazes de perceber que o tratamento às vezes parece ruim, mas na verdade as salvará de outras pragas. Por isso, as amoras verdes se sentem invadidas o tempo todo por um medo incontrolável. Temem ser arrancadas de seus lares, de passarem fome, de perderem o sol. Por ainda serem imaturas não conseguem tolerar o conflito que se instala dentro de si. Por isso, expurgam a dúvida e sentem-se mais tranquilas ao saber que elas estão plenamente certas e todos os outros, errados. O que as amoras verdes não sabem, é que elas odeiam, muito, e é isso que faz delas, completamente azedas.