Somos carentes de amar. Carentes de conseguir compreender o que é amar e ser amado. Somos, talvez, incapacitados para amar. Teremos sido um dia? Somos sem amor. Mas para odiar somos perfeitos. Há um ódio dentro de cada um de nós que é capaz das piores atrocidades. Não se pode mais negar, as redes sociais estão recheadas de exemplos do quanto somos infelizes. Xingamos, gritamos, ofendemos, desrespeitamos. Somos tão odientos que perdemos a capacidade de ouvir e menos ainda, escutar o outro. Não somos capazes de suportar a opinião do outro. Se o outro pensa um milésimo diferente de nós, o odiamos. Mandamos calar a boca. Queremos dar a nossa opinião, dizer o que achamos que deve ser dito, mas não queremos ouvir a resposta. A resposta não nos interessa, porque o outro não nos interessa. Se o outro for diferente de nós, ele não existe. Somos doentes de caráter, doentes de falta de ética. Não sabemos mais o que é hierarquia. Não sabemos mais nos colocar no lugar. Somos barulhentos, birrentos, debochados, malcriados. Desrespeitamos instituições. Desrespeitamos nossos pais e professores. Somos infantis, imaturos, destrutivos. Somos preconceituosos. Somos intolerantes. Somos maus. Somos também sem consciência. Afinal, só tem consciência quem consegue se colocar no lugar do outro. Não acima, mas no lugar. Somos pessoas sem fé. Fé é amar e somos carentes de saber amar. Não amamos o outro. Não amamos a nós mesmos. O sagrado nos habita na medida em que aceitamos o outro e o sagrado que ele carrega em si. Mas nós somos sem Deus, porque Deus é amor. Nós nos bastamos. Somos maiorais. Somos donos da razão. Somos os que estão sempre certos. Somos a hipocrisia. Somos o esgotamento de um sistema. Somos as polaridades. Somos os fantasmas das coisas não ditas e das (mal)ditas.
Cansaço.
Às vezes você se sente assim. Cansado. Talvez como se percorresse um labirinto sob a ameaça constante do Minotauro. Não há saída. A cada nova escolha, uma parede. Asfixia. Claustrofobia. O caminho se encurta e se repete a cada nova tentativa. Uma sensação de ter errado. A frustração. Tenta outra vez. Dá errado. E na tentativa de fugir, parece que a vida gruda num arame farpado. E você se rasga. Sangra. Uma luta interna se trava. Um ódio que também é seu. O ódio é a ruína, você sabe. Não há aurora no desamor, você sabe, você sabe. É hora de proCESSAR os pensamentos e conFIAR (n)a vida. É lento, você sabe. Mas é preciso continuar. Continue. Continue. Continue. Continuo também.