Somos muitas. Somos bonitas, sardentas, gordas, fora do padrão, fazemos botox, assumimos nossas rugas, temos cabelos brancos, curtos, longos, tingidos, somos altas, baixinhas, mães, solteiras, casadas, trabalhadoras, donas de casa, sonhadoras, negras, brancas, indígenas, mestiças, héteros, homos, com estudo, velhas, jovens, com sabedoria, somos do povo, cozinhamos, ganhamos menos, amamos e somos revolucionárias. Somos mulheres.
Depois da pataquada do atraso no resultado das eleições municipais ocorridas no domingo, pelo TSE, foi uma grande emoção descobrir que pela primeira vez na história de Caxias do Sul foi eleita a maior bancada de mulheres do Legislativo da cidade, que tem ainda, a primeira mulher trans da história como suplente. Sim, uma nova onda parece que está a caminho. É bom constatar que a luta pela igualdade entra em campo para iniciar o caminho da vitória. O fato destas mulheres estarem assumindo suas representatividades e sendo eleitas é o mais visível sinal do nascimento da consciência e determinação de tomar para si o protagonismo na condução de suas vidas e do destino da cidade. As mudanças são produzidas na esfera da vida. Sim, o pessoal é político, sim. Essas mulheres eleitas que irão assumir suas vagas no Legislativo são dos mais variados perfis e isso só mostra que existem diferentes trajetórias, diferentes formas de atuação e elas podem ser elas mesmas e estar na política ao mesmo tempo.
Eu sei e sei também que as leitoras que me acompanham todas as terças aqui na coluna, sabem da força que é ser mulher. Apesar da violência de gênero, lutamos de todas as formas para sobreviver e tentar fazer da sociedade na qual vivemos um espaço mais livre e menos doentio, seja simbolicamente ou de forma concreta.
É preciso falar sobre isso, debater, organizar rodas de conversa, coletivizar as discussões que envolvem o feminino e as mulheres, porque toda fala revela uma dinâmica invisível de poder e influência e é fundamental entender quando ela nos atravessa, às vezes como deboche e outras tantas vezes como intimidação.
É importante demais reconhecermos que essas mulheres estão ocupando um espaço conquistado de modo legítimo. Sabemos que elas pertencem a partidos diferentes, com visões de mundo diferentes, mas isso não impede que em algumas pautas possam e devam se unir. Esse apoio que supera as divisões partidárias é uma das práticas políticas mais potentes que existe entre as mulheres. A revolução será feminina, mas isso não significa de modo algum que se deseja eliminar os homens, como se ouve por aí no senso comum. Isso é pura falta de conhecimento. Está na hora de parirmos um novo renascimento cultural e uma nova linguagem, capaz de expressarem a força que carregamos dentro de nós.