Moradores do distrito de Pulador, em Passo Fundo, estão há cinco dias com problemas nas estradas que ligam a localidade ao centro do município. Segundo os moradores, a situação nas vias é recorrente há pelo menos 15 anos, mas se agravou depois das pancadas de chuva que começaram na quarta-feira (14).
A situação mais crítica é no acesso a São Miguel, onde a prefeitura iniciou uma série de reparos para alargar parte do trecho e colocar pedras a fim de melhorar a pavimentação há cerca de um mês. No entanto, moradores relatam que a terra retirada durante a obra transformou a via em um lamaçal após a chuva. Enquanto isso, parte das pedras que deveriam ser colocadas sobre a pista bloqueiam uma das faixas da estrada.
A equipe de GZH Passo Fundo visitou a localidade na manha desta sexta-feira (16). A situação é tão crítica que parte do trajeto, de cerca de 1,5km, teve que ser feito em um trator.
Os motoristas que tentam encarar o trecho com veículos de passeio ficam atolados ou têm o carro danificado. Foi o que aconteceu com o eletricista Valdecir Falcão Vieira, que quebrou o para-choque dianteiro do lado esquerdo ao colidir em um barranco às margens da via depois que o carro carro deslizou em função da lama.
— Felizmente foram só danos materiais, mas poderia ter sido pior, pois a estrada está horrível. Saí de casa para fazer um orçamento a uma cliente e acabei saindo no prejuízo. Tenho seguro, mas e se eu não tivesse? Como ficaria? — questiona.
Enquanto isso, o agricultor Romancir Emílio Keche, 58 anos, ficou com o carro atolado ao tentar ir para o centro de Passo Fundo comprar remédios para a esposa. É a segunda vez na semana que um vizinho ajuda a rebocar o automóvel.
— Na terça feira também aconteceu, e o mesmo com o meu genro. Liguei para meu vizinho e ele veio socorrer com um reboque. É complicado, né? Somente com o apoio dos vizinhos e união para gente conseguir enfrentar essa situação — disse.
Quem ajuda Keche é o agricultor da propriedade vizinha Erverton Reginato. Segundo ele, o telefone não parou de tocar na última semana: foram mais de 10 vizinhos que pediram ajuda para sair da lama com ajuda do trator.
— Quando não é um é outro. A gente dá risada, mas não é fácil — contou.
Apesar do bom humor, há preocupação especialmente para a situação a partir de segunda-feira (19), quando os filhos voltam às aulas. Reginato teme que as crianças percam o início das atividades por causa dos problemas da via.
— Um sentimento de indignação. Muito se fala em sucessão rural, de incentivar os filhos a permaneceram no campo, dar continuidade a produção, mas de que jeito, em quais condições? Como convencer uma crianças a permanecer num local assim, que quando a estrada está desse jeito, precisa fazer um trajeto de 40 km para chegar no centro da cidade? Quem vai querer ficar num lugar assim? Na teoria, o discurso é muito bonito, mas na prática não há valorização do poder público — desabafa.
Dificuldade para escoar produção
A comunidade também enfrenta dificuldades no trajeto que dá acesso à BR-285 no km 309, onde funciona um aviário de produção de frango de corte. Mensalmente, a empresa aloja cerca de 85 mil frangos para abate a cada 60 dias. A produção mensal é de 120 mil toneladas de frango para abate.
Segundo o produtor rural e proprietário do estabelecimento, Mário Piccinini, 73, é comum que caminhões atolem quando o tempo é chuvoso, o que dificulta a mobilidade na estrada estreita.
— Em outubro, quando também tivemos chuvas intensas, teve uma madrugada que precisamos rebocar 10 caminhões carregados com frango que ficaram atolados. Passamos a madrugada toda lidando com isso. Além do aviário, a localidade tem duas granjas de produção de ovos férteis, então caminhões fazem esse mesmo trajeto e atolam com frequência — relata.
Segundo o produtor, a dificuldade na estrada retrai a empresa ao planejar novos investimentos: a capacidade de produção poderia ser maior, mas os acessos são tão ruins aos caminhões que não há interesse em investir no local no momento.
— Não podemos ficar refém apenas de dias bons, pois é uma produção mensal que gera bastante receita ao município, mas que precisa ser valorizada — frisou.
O que diz a prefeitura
Questionado, o secretário municipal de Agricultura e Desenvolvimento Rural, Cristiam Thans, afirmou que a prefeitura executa a recuperação dos cerca de 695 quilômetros de estradas rurais que foram prejudicadas durante o excesso de chuva registrado entre setembro e dezembro de 2023.
Segundo Thans, a secretaria contratou por licitação horas/máquina de maquinários como patrola, rolo, retroescavadeira e caminhões para reforçar as equipes municipais.
— Hoje estamos trabalhando em três ou quatro frentes. Neste momento, com tempo bom, trabalhamos em Bela Vista, Pulador, Santa Gema, Bom Recreio e Estrada do Trigo. Projetamos que vamos levar mais uns três meses para deixar a maioria das estradas em condições — afirmou o secretário.
No caso do lamaçal causado pelas obras no distrito de Pulador, Thans reitera que a execução está correta: as equipes fazem a limpeza e alargamento das estradas e, depois, o desnivelamento, empedramento e compactação (o resultado deve ficar como no destaque).
Segundo ele, todas as estradas do distrito de Pulador serão recuperadas. O processo, contudo, depende de vários fatores, como disponibilidade climática e de maquinário.
— Ocorre que, neste meio tempo, se chover, realmente fica ruim (a estrada), mas depois com o empedramento ficará em boas condições. Nossa estratégia nesse momento será priorizar os pontos mais críticos — pontuou.