Fechada desde o fim do ano letivo de 2021, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Antônio Burin se tornou motivo de medo e preocupação aos moradores do Povoado Coan, na zona rural de Erechim, no norte gaúcho. O matagal tomou conta e o espaço ficou aberto para assaltos, atos de vandalismo, uso de drogas e animais peçonhentos, como cobras e aranhas.
Não é difícil acessar a escola abandonada, que fica às margens da RS-420, no trecho entre Erechim e Aratiba. Desde que fechou as portas, a estrutura nunca mais foi limpa. No lado de dentro, muitas salas de aula ainda contam com livros didáticos, brinquedos e jogos infantis, apesar de doações de alguns dos itens feitas no início de 2022. O que sobrou no local está jogado no chão e coberto pela poeira.
Os moradores do povoado relatam insegurança por residir perto de um local abandonado. Maria Nilce Arboet, que mora em frente ao colégio, conta que tirou dinheiro do próprio bolso para roçar o local por alguns meses. Com o tempo, porém, o orçamento ficou apertado. Desde então, o mato e a preocupação cresceram.
— Dá dó ver esse colégio desse jeito — lamenta a dona Maria.
Inaugurada em 1996, a escola chegou a ter 300 alunos e ofertava educação a turmas do primeiro ao nono ano do ensino fundamental. Em algumas fases, teve 20 professores e contou com turno integral, aulas de técnicas agrícolas, laboratórios de informática e ciências.
Com a o processo de municipalização do ensino fundamental, a escola fechou as portas com apenas oito alunos, no fim de 2021. Não é um caso isolado. Só em 2023, 163 instituições estaduais constavam como extintas no RS — o dobro na comparação com 2013, quando eram 81, conforme dados do Censo Escolar.
Professora e ex-diretora da Escola Antônio Burin, Elenice Piccoli Mingoti atuou no quadro de funcionários da escola por 15 anos e lamenta o abandono:
— No começo não tinha nem classe e cadeira, as crianças não conseguiam estudar. Nós fomos lutando, fomos conversando, achando alternativas e a escola ficou maravilhosa, de primeiro mundo. Lutamos muito por isso e também lutamos para que ela não fechasse.
O que dizem as autoridades
Em nota, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) afirmou que o terreno da instituição de ensino pertence à prefeitura de Erechim e o Estado utilizava o local através de uma concessão. No momento, o processo para devolver o local ao município está em fase de conclusão.
A prefeitura de Erechim, por sua vez, informou que solicitou para que a escola ficasse sob responsabilidade do município, mas o pedido não teve andamento.
Enquanto isso, os moradores seguem apreensivos e aguardam por uma solução.
— Eu fico até emocionada. Confesso que chorei quando entrei aqui porque fazia tempo que não vinha. Ver essa escola com mato, destruição, da maneira que está hoje... muito triste — desabafa Elenice.