O Ministério Público Estadual (MP-RS) de Esteio denunciou, na última sexta-feira (9), uma organização criminosa por movimentar cerca de R$ 1,7 milhão em golpes do bilhete premiado aplicados contra idosos em cidades da região metropolitana de Porto Alegre. No total, são 33 réus por associação criminosa, sendo que 30 também foram acusados por estelionato e dois pessoas por roubo. Os crimes teriam acontecido entre junho de 2021 e fevereiro de 2023.
De acordo com a promotora de justiça Paula Bittencourt Orsi, nove líderes da quadrilha moram em Passo Fundo e atuavam na região de Porto Alegre, principalmente em Esteio, Canoas e Sapucaia do Sul.
Dos nove líderes, oito são homens e uma mulher, que é familiar de outro membro da quadrilha. Em maio deste ano, quatro líderes foram presos durante a Operação Illusio, deflagrada em Passo Fundo. Outros cinco líderes possuem mandado de prisão decretado e seguem foragidos da Justiça, aponta o MP.
Além das lideranças, outras 20 pessoas, denominadas "conteiros" — a maioria de Balneário Camboriú, Farroupilha e Passo Fundo, além de outros locais —, espalham o dinheiro em diversas contas bancárias. Outros quatro são colaboradores da quadrilha, que administravam contas e transferências bancárias, além de procurarem novas pessoas para atuarem como "conteiros" e pulverizar o dinheiro. Entre os 33 réus, também estão pessoas de outros estados como Paraná e Espírito Santo.
Dinheiro espalhado em centenas de contas
Segundo o MP, foi movimentado cerca de R$ 1,7 milhão nas contas bancárias dos réus. Durante a investigação, foram identificadas 17 vítimas dos golpistas. O valor roubado das vítimas, no entanto, é de cerca de R$ 870 mil.
A promotora Paula Bittencourt Orsi explica que essa é uma das diversas quadrilhas que aplicam o golpe do bilhete no Estado. A denúncia teve origem com os resultados da operação da Polícia Civil em 7 de maio quanto 18 pessoas foram presas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo.
— É uma quadrilha de Passo Fundo que vinha até a grande Porto Alegre aplicar o golpe, principalmente em idosos. Em cidade menor, as pessoas se conhecem. Eles faziam questão de virem a Porto Alegre, escolhiam algumas cidades da região para aplicar o golpe. Cabe ressaltar que essa é uma das quadrilhas que aplicam o golpe em todo o Estado. Neste caso, em específico, essa quadrilha aplicou o golpe em um número indeterminado de pessoas — afirma.
Paula relata que a quadrilha atua com a pulverização do dinheiro. Desta forma, sempre está atrás de novas contas bancárias para fazer as movimentações.
— As transferências bancárias acabam realizadas. Ela entra na conta do golpista, que logo envia o dinheiro para mais seis contas. Eles vão pulverizando o dinheiro. Eles (réus) pegavam pessoas até na academia, pedindo a conta emprestada e falando em dar retorno em dinheiro para o uso da conta — explica, com base na investigação.
Segundo Paula, as vítimas que sofreram golpes neste período na região podem procurar as delegacias de Polícia e buscar a identificação dos denunciados, sobretudo dos nove líderes.
Como era praticado o golpe
Os denunciados agiam com atuação popularmente conhecida como golpe do bilhete premiado. O crime era cometido em grupos de três a quatro pessoas em que, um por vez, abordavam as vítimas em ruas de pouco movimento, mas que não eram desertas.
Segundo o MP, o golpe funcionava da seguinte forma: um dos denunciados se passava por uma pessoa de origem humilde e simulava ser analfabeta, com um bilhete em mãos, pedindo ajuda à vítima para localizar um endereço inexistente. Após essa abordagem, um segundo integrante do grupo, bem-vestido e instruído, entrava na conversa e se propunha a ajudar.
O segundo denunciado oferecia ajuda ao dono do bilhete e já entrava em contato com um terceiro comparsa, que se passava por gerente da Caixa Econômica Federal. Diante da vítima, eles "confirmavam" que os números do bilhete eram premiados. O suposto gerente, então, passava orientações para retirada do prêmio.
Depois que o homem humilde prometesse dar à vítima e ao comparsa parte do prêmio, os três entravam em um carro e solicitavam à vítima uma "garantia" para pagamento da recompensa. Segundo o MP, a própria vítima repassava os valores à conta dos denunciados e depois recebia um cartão bancário e senha onde, supostamente estaria depositado o prêmio. Os criminosos, então, despistavam a vítima e fugiam com o valor já em suas contas.
GZH Passo Fundo
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