Frederico Westphalen, cidade de 31 mil habitantes no norte gaúcho, registrou a morte de 15 bebês do começo de 2023 até novembro de 2024, de acordo com dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS). As mortes são infantis (abaixo de um ano) e fetais (antes do nascimento).
No ano passado, a taxa de mortes infantis no município chegou a 14,2 a cada mil nascidos vivos, acima da média do RS, de 10,2. Neste ano, até outubro, o índice é de 9,4. Já de mortes de fetos, foram seis casos.
O mais recente aconteceu em 4 de novembro. Neusa Nascimento dos Santos, 34 anos, estava no fim da gestação quando, no dia 3, sentiu falta dos movimentos do bebê na barriga.
A mulher conta que consultou em um posto de saúde do município em 30 de outubro e foi informada que a situação era normal, e não fez mais exames. Ela diz não ter sido atendida por obstetra durante toda a gestação.
— No fim de semana comentei com familiares que não estava sentindo ele se mexer mais, mas como eu não tinha dores achei que seria normal. Fui no hospital, fiz um ultrassom e o médico disse que tinha pouco líquido e mancha preta na placenta. Tiraram ele já sem vida — conta.
Segundo o presidente da Associação Pró UTI Neonatal e Pediátrica da cidade, Clayton Braga, a falta de estrutura no atendimento público é a causa do problema, principalmente pela ausência de uma UTI neonatal, reivindicação histórica da entidade, da população de Frederico Westphalen e de municípios próximos.
— As gestantes vão consultar seu pré-natal, fazer o acompanhamento e simplesmente não tem obstetra, uma coisa tão fundamental. Uma cidade desse porte não ter essa regulamentação de baixa, média e alta complexidade das gestantes. Outro problema são erros em exames. Nós não temos aparelho de ultrassom pelo SUS, é terceirizado e há falta de investimento — afirma.
Em abril e maio, dois bebês morreram enquanto esperavam por transferência para um leito especializado. No começo do ano, o cenário motivou uma manifestação por parte de familiares das mães e bebês, com cartazes que pediam por melhorias na saúde local.
Questionada, a prefeitura de Frederico Westphalen afirmou que as unidades de saúde têm profissionais capacitados para receber as gestantes e realizar o devido acompanhamento durante seu pré-natal, "onde o atendimento é realizado por médico e enfermeira de forma compartilhada", diz em nota (leia na íntegra abaixo).
No posicionamento, a prefeitura também afirma que mantém um serviço de sobreaviso de obstetrícia junto ao Hospital Divina Providência.
Pré-natal adequado
O pré-natal diz respeito ao atendimento à gestante e ao feto desde a concepção até o nascimento e puerpério. Conforme a ginecologista do Hospital de Clínicas de Passo Fundo, Camila Capelin, o cuidado começa logo no começo da gestação.
— A importância do pré-natal se dá desde a primeira consulta de orientação do casal até a identificação e tratamento de doenças que, quando não diagnosticadas e tratadas com brevidade, podem levar a gestação a um desfecho desfavorável, com malformações fetais, crescimento inadequado do bebê, parto prematuro e até mesmo complicações clínicas da própria gestante — pontua.
Também é indicado que toda a gestação seja acompanhada por um obstetra. A falta do profissional, segundo Capelin, pode resultar em um cuidado insuficiente no que diz respeito a exames e diagnósticos de condições determinantes para uma gestação saudável.
— O médico obstetra estuda para aprimorar o diagnóstico de algumas doenças específicas da gestação, ajudar com exames e suplementações de vitaminas necessárias ao bom desenvolvimento da feto, intervir no percurso do pré-natal sempre que necessário e para garantir uma assistência mais completa ao binômio materno fetal — acrescenta.
A especialista aponta ainda a relevância de exames que vão além do ultrassom comum, como ultrassom morfológico, exames de sangue, de urina, sorologia, glicemia e outros, que são avaliados pelo profissional especializado.
Leia a íntegra do posicionamento da prefeitura de Frederico Westphalen
"Nossas unidades básicas de saúde possuem profissionais capacitados para receber as gestantes e realizar o devido acompanhamento durante seu pré-natal, onde o atendimento é realizado por médico e enfermeira de forma compartilhada.
Conforme preconizado, são realizadas consultas mensais até a 28ª semana de gravidez. Na sequência, são realizadas consultas quinzenais e, havendo necessidade, ocorrem atendimentos semanais até o final da gestação.
Durante a estratificação de risco gestacional, caso a mesma apresente alguma alteração na avaliação de fatores de risco, é acionada a rede de atenção à saúde da mulher e do bebê com envio da mesma para a profissional obstetra e inclusão do caso no sistema de regulação de consultas especializadas do SUS (Gercon), seguindo os protocolos de telessaúde, que contém os critérios necessários para encaminhamento de media e alta complexidade.
Quando existe a necessidade da realização desse atendimento especializado em nossos centros de referência para pré-natal na média e alta complexidade, a Secretaria Municipal de Saúde disponibiliza o transporte necessário para a gestante e acompanhante.
Também é mantido pelo município um serviço de sobreaviso de obstetrícia junto ao Hospital Divina Providência, onde a gestante ao sentir alguma alteração procura a instituição de saúde para receber atendimento, sendo que lá existe também a maternidade do HDP com atendimento pelo SUS.
Cabe salientar que a gestante tem direito a realizar todos os seus exames durante o pré-natal pelo SUS e, caso não houver mais cotas, os mesmos são autorizados através do Consórcio Intermunicipal do Médio Alto Uruguai (Cimau), com expensas ao município, sem nenhum custo adicional para a paciente.
Em relação ao puerpério, as equipes são orientadas a realizar a primeira consulta na semana seguinte após o parto e outra aproximadamente 40 dias, visando que sejam realizadas as intervenções que se façam necessárias em tempo oportuno.
Quanto ao recém nascido, o atendimento é realizado com os profissionais médicos e enfermeiros com a periodicidade mensal até a criança completar um ano de vida, após é realizado o agendamento de retorno após 18 meses e novamente aos 24 meses, isso quando não ocorre intercorrências nesse período, pois nesse caso a mesma pode ser atendida a qualquer tempo em nossas Unidades Básicas de Saúde.
Nos casos em que existe a ausência da gestante nas consultas agendadas de acompanhamento, a equipe da UBS realiza a busca ativa em sua residência, assim como ocorre quando não há comparecimento para consulta puerperal e do recém nascido também".