Por Jocélio Nissel Cunha, presidente do Hospital de Clínicas de Carazinho
Donald Trump conquistou a maioria dos delegados eleitorais nos 50 estados americanos na última terça-feira (6) e será o próximo presidente dos Estados Unidos. Ele é o primeiro ex-presidente a retornar ao cargo em mais de 130 anos de história e também o mais velho a assumir a Casa Branca, com 78 anos.
O retorno do republicano foi efetivado com uma vitória incontestável sobre a candidata democrata Kamala Harris. A posse presidencial está marcada para 20 de janeiro de 2025, juntamente com o vice-presidente eleito, o senador J.D. Vance.
O candidato republicano prometeu durante a campanha, entre outras coisas, abandonar o modelo atual de diplomacia adotado pelo presidente Joe Biden durante sua gestão, e disse que pretende instaurar uma versão turbinada do protecionismo americano, que guiou o seu mandato anterior.
O estilo histórico de fazer política externa de Trump é o de se aproximar de países e de líderes cujos pensamentos sigam as diretrizes da direita global. A expectativa de vários analistas mundiais é de que haverá o fortalecimento dos movimentos conservadores de direita, não apenas nos EUA, mas também mundo afora.
Esta mudança terá impactos reais na diplomacia entre o Brasil e os Estados Unidos, pois sabidamente, o presidente Lula havia declarado abertamente seu apoio à candidata derrotada Kamala Harris.
Este fato poderá ser usado politicamente pelo presidente Trump para preterir o Brasil em importantes relações comerciais no futuro. Além de políticas públicas divergentes, há também fortes divergências pessoais entre o presidente brasileiro e o norte-americano.
Todavia, o Itamaraty deverá tentar garantir que a relação bilateral não seja contaminada pelas divergências ideológicas entre os dois presidentes.
As promessas de campanha de Donald Trump indicam também que haverá uma mudança clara na diplomacia ambiental dos EUA, uma vez que durante a gestão Biden, foram feitos fortes investimentos financeiros em transição energética e energia verde, o que não será a prioridade do novo governo Trump, segundo as manifestações na campanha eleitoral.
Outra preocupação relevante está na questão militar, sobre a qual o Brasil optou claramente por um posicionamento diferente dos EUA na questão da guerra da Ucrânia e de Israel.
Independentemente da opinião que se tenha sobre a figura de Donald Trump, capaz de despertar sentimentos antagônicos de paixão e ódio, é preciso reconhecer categoricamente que o processo eleitoral democrático funcionou plenamente nos EUA, fazendo com que o ex-presidente chegasse ao poder novamente através de uma concorrida eleição histórica.
Pelo retrospecto de sua primeira gestão como presidente e por tudo o que foi prometido na campanha presidencial, certamente haverá um protecionismo grande na economia americana e um forte controle nas fronteiras quanto à imigração ilegal, bem como uma tendência de cortes de impostos, acarretando em pontos positivos e negativos para o país em médio prazo.
Tudo isso nos leva a uma forte expectativa de como será o segundo governo do presidente Trump, todavia, uma realidade se impõe nessa nova conjuntura econômica, pois a China já ocupa hoje a primeira posição de parceria comercial na maioria dos países da América Latina, inclusive o Brasil, e a tendência também é de acirrar cada vez mais uma disputa na agenda econômica mundial dessas duas superpotências.
Historicamente o Brasil sempre manteve relações diplomáticas e econômicas estabilizadas com os EUA, com algumas pequenas oscilações. Porém, nada disso é certo ou será confirmado: só mesmo o tempo irá dizer quais as verdadeiras consequências de tudo isso no cenário brasileiro e mundial.
Jocélio Nissel Cunha é presidente do Hospital de Clínicas de Carazinho, vice-presidente da Acic de Carazinho e membro do Conselho Superior da Federasul.