Por Fábio Vendruscolo, diretor da Associação Comercial, Cultural e Industrial de Erechim (Accie)
É sabido que um dos setores que mais geram emprego e renda é a indústria. Todas as outras atividades são importantíssimas, mas a indústria considero ser fundamental para a roda girar, visto que é a que mais gera impostos e assim por diante.
Porém, para que possamos visualizar um futuro mais seguro, devemos olhar para o comportamento das pessoas e o cenário tecnológico que se avizinha — ou melhor, que já chegou. Nesse contexto, será que a mão de obra disponível no mercado está preparada para os desafios e interessada em fazer algo a mais no ambiente que está inserida? Essa é a grande questão.
Em um passado não muito distante, havia poucas profissões no mercado. Dessa forma, era muito mais fácil encontrar pessoas para preencher os quadros de colaboradores. Com a chamada globalização, as opções de trabalho se tornam muitas, posso dizer infinitas e, a cada dia, se criam novas profissões. Por isso questiono: jovens e adultos estão preparados para este desafio? Pelo comportamento e grau de importância que vejo tratar o assunto, posso afirmar que não.
Em nossa região, temos seguramente mais de 10% das vagas em qualquer atividade, seja indústria, comércio, serviço, construção civil ou agronegócio, em aberto. Ao mesmo tempo, percebemos muitas pessoas fora do mercado de trabalho. Enquanto isso, boa parte das que estão inseridas têm idade mais avançada.
Nesse cenário, devemos questionar o motivo da pouca importância que jovens dão ao trabalho. Onde erramos? O que a geração mais nova espera ou imagina do presente e do futuro? Tudo o que construímos foi com muita dedicação, superação e trabalho e, agora que estamos bem encaminhados, me parece que não conseguiremos dar continuidade.
Será que, pelos pais terem passado por dificuldades, instruem seus filhos a não trilhar o mesmo caminho? Mas o caminho nos dias de hoje é bem mais tranquilo e fácil. Será que políticas públicas e sociais desestimulam os jovens a prosperar? Será que a educação pública ou até mesmo privada está acompanhando as necessidades e tendências do mercado? A tal tecnologia está mesmo ao nosso alcance? Ou vivemos uma constante enxurrada de informações e ficamos inertes sem saber o que fazer?
"Desinteresse"
Percebemos um desinteresse muito grande nos jovens em buscar qualificação verdadeira. Basta olhar para nossas universidades e veremos cursos fundamentais para manutenção de empresas sendo extintos por falta de alunos, como as engenharias.
Mas devo alertar que somente o diploma não é garantia de sucesso. O mercado cobra muito mais que um certificado. O dinamismo do dia a dia é muito mais duro, colaboradores são muito cobrados pela eficiência, criatividade e são postos à prova sem estar preparados.
Tenho percebido muito recrutamento de jovens sem olhar a qualificação do pretendente, pois o foco agora é testar a vontade ou aptidão deste candidato em aprender um ofício que não figurou entre as disciplinas da faculdade ou em qualquer outro curso — em resumo, a prática.
Por outro lado, devemos voltar nosso olhar para dentro das empresas e se colocar no lugar de cada um que ali está para entender se aquele ambiente de trabalho é o ideal ou não. Cada vez mais o empresário precisa investir no bem estar do seu time. A atração e retenção de talentos passa pelas políticas internas e grau de importância que as pessoas merecem, ou seja, pelo reconhecimento.
Sabemos, também, que a falta de mão de obra não é somente um problema em nossos municípios, Estado ou país, mas sim mundial. A população está diminuindo e, por consequência, perdemos nossa capacidade produtiva. Para superar isso, empreendedores têm se empenhado ao máximo para continuar gerando renda e investindo cada vez mais em tecnologias para atender as necessidades do mercado.
Outro fator que devemos levar em consideração é a carga tributária sobre a folha de pagamento. Isso também impacta no salário que o colaborador recebe mensalmente. Uma reforma é urgente, assim como o governo olhar diferente para quem realmente produz. Caso contrário, perderemos dia após dia nossa força produtiva.
Fábio Vendruscolo é diretor da Associação Comercial, Cultural e Industrial de Erechim (Accie). Entre em contato com o colunista pelo e-mail: vgraf@vgraf.com.br.