Por Julcemar Zilli, economista
Numa sociedade onde a transação financeira é uma peça central na engrenagem do cotidiano, o indicador de inadimplência torna-se o termômetro que mede a saúde econômica de uma comunidade. Assim, não é sem significado que os números recentemente divulgados pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre e SCPC Boa Vista/Equifax apontem para um incremento no Indicador de Inadimplência em Passo Fundo, bem como em níveis estaduais e nacionais.
Conforme os dados apresentados, o número referente ao percentual de pessoas físicas adultas com alguma restrição em crédito, cheque ou protesto, em Passo Fundo registrou um aumento de 34% em dezembro de 2023 para 35,4% em janeiro de 2024. Este fenômeno não se restringe aos limites geográficos da cidade, mas expande-se, com nuances, tanto para o estado quanto para o país, com percentuais que evoluíram de 30,7% para 32,1% e de 30,3% para 31,4%, respectivamente.
Indiscutivelmente, tal comportamento suscita uma reflexão profunda sobre os fatores que o produziram. A análise dos padrões sazonais nos convida a considerar o contexto social e cultural que permeia o período entre dezembro e janeiro, marcado pelo final de ano, festas, férias e pagamento de tributos.
Em primeiro plano, o final de ano estimula um aumento significativo nos gastos, seja com aquisições de presentes, viagens ou eventos sociais. O clima festivo, embalado pela atmosfera natalina, muitas vezes faz com que as pessoas se deixem levar pela empolgação e ultrapassem seus limites financeiros, recorrendo, por vezes, a crédito fácil e desprovido de uma reflexão prudente sobre as implicações futuras.
Ademais, o período de férias, tradicionalmente associado ao relaxamento e ao desprendimento, pode gerar uma negligência quanto aos compromissos financeiros. O distanciamento da rotina diária, aliado à menor vigilância sobre as finanças pessoais, pode levar a atrasos nos pagamentos e, consequentemente, ao aumento da inadimplência.
Responsabilidades
Entretanto, seria simplista atribuir o incremento na inadimplência unicamente a esses fatores sazonais. É imprescindível reconhecer que tais padrões de comportamento são reflexos de uma cultura de consumo desenfreado e muitas vezes “irresponsável”, alimentada pela sociedade contemporânea.
O apelo incessante ao consumo, propagado pelos meios de comunicação e pela cultura do imediatismo, tem implicações diretas no manejo dos recursos financeiros, frequentemente relegados a um segundo plano em detrimento da satisfação momentânea.
Assim, surge uma reflexão coletiva sobre os valores e prioridades que regem nossas escolhas financeiras. É necessário fomentar uma educação financeira que promova o consumo consciente e responsável, capacitando os indivíduos a administrar seus recursos de forma sustentável e equilibrada ao longo do tempo.
Em suma, o aumento no Indicador de Inadimplência, como evidenciado pelos dados recentemente divulgados, não deve ser encarado meramente como uma oscilação estatística sazonal, mas sim como um sintoma de desafios mais profundos que permeiam nossa relação com o dinheiro e o consumo. Surge, pois, um compromisso coletivo para reverter esse quadro, promovendo uma cultura financeira que valorize a prudência, a responsabilidade e a sustentabilidade econômica em prol do bem-estar individual e social.
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