Na Igreja Católica, o exorcismo é um ritual que gera curiosidade e especulação. Apesar da mística que envolve a prática, ela é comum a várias culturas, conforme pontua a doutora em História pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e coordenadora do Laboratório de Estudos das Crenças (LEC), Gizele Zanotto. Em entrevista à GZH Passo Fundo, ela explica em quais situações a prática é entendida como necessária — e sobre o cuidado em não confundir patologias e crenças.
Recentemente, a nomeação de um cônego exorcista no município de Seberi, no norte do Estado, despertou curiosidade sobre como o ato é feito e também acerca da demanda na cidade, que possui cerca de 11 mil habitantes. O sacerdote Marco Antonio Jardinello é ligado à Diocese de Frederico Westphalen, mas faz os atendimentos na Paróquia Nossa Senhora da Paz de Seberi.
De acordo com a especialista, segundo a fé católica, o exorcismo é o rito realizado em nome de Jesus Cristo para proteção de uma pessoa, objeto e local da ação ou domínio do maligno. Neste sentido, há exorcismos comuns como o batismo, bênçãos a objetos, pessoas e lugares, enfim ritos de proteção que marcam o cotidiano do devoto:
— Para o rito de expulsão demoníaca, há maior cuidado por parte da Igreja, que demanda um padre exorcista formado para tal reconhecimento e rito. O padre exorcista, quando chamado, faz uma análise e acompanhamento visando diagnosticar se os casos são doenças e distúrbios, ou se pode ser entendido como uma possessão maligna. O Ritual dos Exorcismos acaba auxiliando ao apontar o que seriam alguns dos indícios da possessão, todavia, a preparação do padre exorcista para evitar confusões entre patologias e possessões é destaque.
Autorização para o procedimento
Não é todo padre ou cônego que pode efetuar um exorcismo. Algumas especificidades são levadas em consideração, além da necessidade de autorização de um superior local ou regional, como um bispo.
— O líder deve indicar um padre exorcista, formado para tal rito, que deverá assumir o caso e dar conta do diagnóstico, da sentença sobre ser ou não possessão o tema em questão e, em caso positivo, do rito de purificação decorrente de sua análise — explica Gizele.
Em 1990 foi criada a Associação Internacional dos Exorcistas, que passou a articular os profissionais dessa área e reivindicar mais espaço e valorização junto ao Vaticano. Dessa pressão, decorreu a recomendação de que as dioceses nomeassem exorcistas, a partir de 2004. Para criar esse corpo profissional e dar conta dessa nomeação, foi ofertado um curso de treinamento em 2005, ampliando o número de religiosos aptos a função.
— Desde então o tema tem ganhado consolidação na Igreja e, ora mais, ora menos, surge nas mídias com narrativas jornalísticas de casos reais, ou mesmo novos produtos de divulgação, como filmes, livros, seriados e outras produções da indústria cultural — acrescenta.
Exorcismos, de fato, são raros
Questões de psicologia e psiquiatria são abordados na hora de avaliar a possibilidade do exorcismo, por isso a importância da formação do sacerdote, para levar a um maior discernimento na hora do diagnóstico. Mesmo o auxílio de profissionais da saúde pode ser reivindicado, no intuito de evitar conclusões equivocadas, conforme a especialista.
— Os exorcismos, de fato, são raros. São ações conduzidas com atenção, cuidado e muita prudência, afora os sensacionalismos que nos vem à mente pelas memórias derivadas de produções livrescas e filmes — completa a doutora.
GZH Passo Fundo
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