A leitura não é um hábito dos brasileiros. De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura do Brasil, 31% das pessoas nunca compraram um livro e 44% da população não lê. Entretanto, os dados podem mudar no futuro. Isso porque, ainda segundo o estudo do Instituto Pró-Livro (IPL), crianças entre 5 e 10 anos são a faixa etária que mais consome literatura no País.
Uma forma de aproximar os brasileiros da prática é por meio de iniciativas públicas. Realizar eventos e programas voltados para a literatura podem envolver mais os pequenos e as famílias, influenciando-os a buscar por novas histórias.
Conhecida como Capital Nacional da Literatura e de Cidade Educadora, Passo Fundo tem investido em inúmeras ações que fomentam a leitura. A prefeitura do município promove diversos eventos e projetos para incentivar o hábito entre os jovens. Um dos programas desenvolvido, em parceria com a Secretaria de Educação, é o Passaporte da Leitura.
– Este documento conta com 20 páginas de muitas "inspirações" sobre leitura que ajudam o estudante a aproveitar melhor suas viagens literárias e, ainda, registrá-las no espaço para os carimbos. Nele, é possível registrar as experiências literárias espalhadas por espaços como a Biblioteca Pública, a Academia passo-fundense de Letras, o Prisma e a Feira do Livro. Além de espaços para autógrafos, dicas para ritual de leitura, listas de livros futuros, registros de obras já consumidas e o vale-livro de R$ 40, para trocar com livreiros do município – explica o secretário da Educação de Passo Fundo, Adriano Teixeira.
Nesta entrevista, Teixeira e a responsável pela Biblioteca Municipal Arno Viuniski, Vanessa Hickmann, falam sobre o passaporte da leitura e a importância deste programa para a cidade e os moradores.
Qual a importância do projeto passaporte da leitura para os jovens e cidadãos de Passo Fundo?
Vanessa Hickmann – O projeto do Passaporte da Leitura valoriza ainda mais as práticas leitoras mediadas pelos agentes (professores) nas escolas. Também estimula que crianças e adolescentes possam conhecer diversos espaços da nossa cidade, como a Biblioteca Municipal, a Academia Passo Fundense de Letras, o Prisma e as livrarias, em busca de carimbar suas viagens literárias.
Mas o objetivo principal do passaporte é formar leitores, ensinando que o hábito de ler pode ser um momento divertido, compartilhado com amigos, familiares e colegas. Além disso, dentro do passaporte, há um vale-livro de R$ 40, que proporciona a oportunidade de cada estudante constituir sua própria biblioteca.
Como surgiu a ideia do projeto?
Vanessa Hickmann – A ideia do passaporte surgiu a partir da participação da Biblioteca Municipal na Bienal do Livro de São Paulo, em 2021. Trata-se de uma experiência significativa para todos os que acreditam e trabalham pelo livro e pela leitura. O cheque-livro, por sua vez, é uma iniciativa da Prefeitura de Passo Fundo, junto à Secretaria de Educação, também voltada à formação de leitores, confirmando o título de Capital Nacional da Literatura e de Cidade Educadora.
Quais são os outros projetos realizados pela prefeitura de Passo Fundo que incentivam a leitura?
Vanessa Hickmann - A leitura é um dos principais processos cognitivos para a aquisição do conhecimento. No mundo atual, isso pode acontecer de diversas formas, seja por meio da leitura de um livro, seja via vídeo, áudio em podcast, peça teatral, entre outras.
A experiência leitora estimula o raciocínio, a imaginação, a criatividade, a comunicação e o senso crítico. Além disso, aprimora a capacidade interpretativa e de busca de soluções para os problemas, uma vez que proporciona momentos para a troca de experiências, entre texto e leitor.
Segundo Paulo Freire, “é preciso que a leitura seja um ato de amor”. E, para que esse sentimento se desenvolva, é necessário que a criança viva experiências prazerosas através da leitura, proporcionadas no ambiente familiar, escolar ou social. Dessa forma, ler é uma prática imprescindível para todos aqueles que desejam desenvolver um senso crítico, ser criativo e inovador e, ainda, impactar positivamente o mundo em que vivemos.
A Prefeitura de Passo Fundo realiza diversas atividades que fomentam o livro e a leitura no município e, ainda, validam o título de Capital Nacional da Literatura e de Cidade Educadora. São eles:
● Programa Boralê: Incentivo à leitura com ações como contações de histórias, emissão de cheque-livro aos alunos da rede municipal, feira do livro e outros.
● Biblioteca Pública Municipal Arno Viuniski: Espaço de empréstimo de livros com um acervo de mais de 17 mil obras, mediante cadastro gratuito.
● Projeto RECREativo: A Biblioteca Municipal leva atrações culturais nas escolas da rede municipal, com contadores de histórias, teatro e poesia.
● Sacola Literária: A biblioteca também disponibiliza obras literárias para serem trabalhadas pelos agentes literários (professores) dentro do planejamento pedagógico, com títulos de autores clássicos e contemporâneos.
● Contação de histórias: A biblioteca do município ainda recebe estudantes para conhecerem o acervo e ouvir contação de histórias em seu espaço.
● Projeto Identificando Talentos: Em parceria com a Academia Passo-fundense de Letras, a Prefeitura incentiva os estudantes do Ensino Fundamental da rede a desenvolverem a escrita, escrever e publicar seus próprios textos.
● Prêmio Literário: A Prefeitura investe no prêmio, destinando recurso aos escritores locais para a publicação de novas obras e descoberta de novos talentos.
● Prêmio FUNCULTURA: Incentivo a projetos culturais, implementados no território, incluindo os setoriais do Conselho Municipal de Cultura. Muitos projetos aprovados são aplicados nas escolas da cidade.
● Prisma: Espaço disruptivo de aprendizagem com inúmeras experiências literárias, disponíveis por meio de agendamento para visitas.
● Feira do Livro: Evento destinado ao contato dos leitores com os escritores e livreiros. Os participantes também têm acesso às novidades do mercado editorial e inúmeras atrações culturais (contações de história, shows, espetáculos de teatro, e recitais de música e de poesia).
Qual a conexão do Passaporte da Leitura com a Cidade Educadora?
Adriano Teixeira – Segundo a Carta das Cidades Educadoras, essas “têm personalidade própria, integrada no país onde se situa e, por consequência, interdependente da do território do qual faz parte”. O título de Capital Nacional da Literatura (Lei nº 11.264 de 2 de janeiro de 2006) e Capital Estadual da Literatura (Lei nº 12.838 de 13 de novembro de 2007).
Entretanto, a história da cidade com a literatura tem seu marco principal em 1981, ano da primeira Jornada Nacional de Literatura. Assim, é possível afirmar que uma das características de nosso território é a formação de leitores.
A cidade educadora deve criar alternativas para a formação, promoção e o desenvolvimento dos seus habitantes. A carta aponta ainda, que estas ações de cidades educadoras devem ocupar-se prioritariamente com as crianças e jovens.
Pois bem, o Programa do Passaporte da Leitura possui profunda sinergia com a identidade da cidade na formação de leitores e é direcionado especificamente para crianças e jovens, constituindo-se uma ação legítima de Cidade Educadora.