Um trabalho de combate ao racismo que percorreu quase quatro décadas em escolas e que permanece na luta diária de Josenira Ferreira da Silva. Aos 70 anos, a psicopedagoga, que atualmente trabalha na Biblioteca Municipal Arno Viuniski, será uma das homenageadas da 36ª edição da Feira do Livro de Passo Fundo como educadora emérita.
Defensora da equidade racial por meio da educação, a estudiosa construiu sua caminhada lecionando na Escola Estadual Protásio Alves e nas Escola Municipal Daniel Dipp. Filha de uma passo-fundense e um carioca, a professora tornou-se referência no ensino antirracista.
— Essa cultura já veio de berço, muito por causa do meu pai. Quando se sai daqui para vivenciar lugares como Rio de Janeiro ou Bahia, se vê que, na nossa cidade e no nosso Estado, o nosso progresso, enquanto negros, não é visto. Isso há em todo o Brasil, mas aqui é ainda mais entranhado — diz ela.
A professora remonta casos de racismo, que vão desde estudantes sofrendo preconceito por fazer parte de religiões de matriz africana até casos velados que ela enfrenta em diferentes situações.
— A gente sofre a cor da pele, a trajetória é bastante difícil. Muitas vezes me questionam com surpresa "mas a senhora tem faculdade?", porque pensam que somos incapazes. A forma de superarmos isso é através de políticas públicas, que também precisam chegar na base do ensino.
Mesmo com uma lei federal de 2003, que obriga as escolas de ensino fundamental e médio a ensinarem sobre história e cultura afro-brasileira, Josenira aponta que o percurso ainda é longo, mas se diz otimista com o futuro. Ela esteve à frente da Coordenadoria da Igualdade Racial do município por um ano e conta que o trabalho mostrou avanços.
— Nós sabemos o que é preciso mudar. Precisamos de engajamento da comunidade negra e também de incentivo, implantação de programas e projetos. Por exemplo, nós nem temos noção de quantos alunos negros temos em nossa rede. Também é preciso que os professores tenham preparo e treinamento para não discriminar e acolher os estudantes. Precisamos construir, e o pessimismo não é para mim — conclui.