Com milhões de seguidores nas redes sociais e shows lotados por todo país, o humorista e influencer francês Paul Cabbanes desembarca pela segunda vez em Passo Fundo. Ele chega à cidade nesta sexta-feira (1º) com seu novo stand up Alma de Brasileiro, em apresentação única no auditório do Colégio Notre Dame.
Após uma década morando no Brasil, o francês compartilha com o público sua visão peculiar da cultura brasileira. No show, ele promete responder a uma pergunta: afinal, o que é ter alma de brasileiro?
Mas antes do espetáculo, que começa às 21h, o humorista conversou com GZH sobre as expectativas para a noite, diferenças entre o Brasil e a França e sua relação com o Rio Grande do Sul, isso porque depois de Passo Fundo ele também se apresenta em Porto Alegre, Pelotas, Novo Hamburgo e Caxias do Sul. Confira a seguir a entrevista exclusiva.
GZH: este é o primeiro show da temporada no RS. Qual a expectativa para apresentação?
Paul Cabbanes: eu já fui a Porto Alegre umas quatro vezes e Passo Fundo uma vez. E é muito legal porque tem muitos gaúchos que se identificam com a cultura europeia. Eu percebo isso por motivo sociológico e histórico. Então meus shows têm bastante identificação no sul, eu gosto muito. Inclusive o Rio Grande do Sul é a região onde eu mais fiz show na minha carreira.
GZH: cada cidade traz um tempero diferente para o stand up. O que o público de Passo Fundo pode esperar?
P: eu gosto sempre de fazer piadas regionais, mas é uma minoria, o resto é realmente falando sobre o brasileiro como um todo. É um retrato cultural do Brasil, a maneira de falar, como o brasileiro vive, o que são as grandes diferenças de cultura entre vocês e nós, os franceses. Realmente é um retrato, sabe?
GZH: como humorista e influencer, o que muda entre a vida no digital e nos palcos? Qual o papel da interação com o público nos dois casos?
P: é interessante essa pergunta porque ninguém nunca tinha me feito. Eu acho que o digital é o arroz e feijão, sabe? Ele é o dia-a-dia, é o que eu faço, é minha base e não sempre como uma coisa super trabalhada. Não dá pra trabalhar no digital todo dia um vídeo muito bem pensado, já o show é outra coisa.
Em uma carreira inteira, quantos shows têm? Três, quatro, cinco? Esse daqui foi dois anos de trabalho, o primeiro foi três. Me deixa com mais orgulho também no final da minha carreira. Os vídeos são mais passageiros, ninguém lembra de um vídeo que se fez há dois anos.
GZH: qual a diferença entre o senso de humor dos brasileiros e o senso de humor dos franceses?
P: eu acho que o senso de humor do francês é muito sarcástico, sabe? Eu vejo meus amigos comediantes na França e eles têm uma pegada muito sarcástica, que às vezes aqui pegaria mal pela questão de tirar sarro das pessoas. Aqui é uma linha específica, acho que tem mais a coisa de tirar sarro de si mesmo. Então, é uma coisa que eu acho muito legal, muito bacana.
GZH: você também tem uma escola de francês. Como o humor ajuda no aprendizado de uma nova língua?
P: o humor é a última coisa que você vai entender. Quando você mora em outro país, você vai começar com todos os níveis e o último vai ser entender o humor, porque aí você precisa de um entendimento muito sutil da língua e também da cultura. Mas eu tento ter uma pegada leve, uma maneira de comunicar que não seja muito engessada. Eu tentei botar um carisma aí para que seja mais agradável para a galera estudar, porque você tem que gostar do professor, você tem que se sentir bem. Não pode ser maçante, ou fica chato.
GZH: o que o Brasil pode aprender com a França e o que a França pode aprender com o Brasil?
P: tem um senso comum, um senso coletivo na França. O francês é um bom cidadão, mas, às vezes, é um péssimo familiar. O brasileiro é um bom familiar e, às vezes, é um péssimo cidadão. O francês tem esse senso da sociedade, mas, às vezes, não muito da família. E o brasileiro é exatamente o contrário. Então, é muito interessante ver que, realmente, cada um aprende com o outro. Vocês valorizam muito a família de vocês. E isso daqui é uma coisa que eu acho incrível e que eu falo no show, por exemplo.
GZH: como que você enxerga esse cenário de crescimento dos imigrantes que vêm morar no Brasil?
P: o brasileiro que vai para a Europa, ele busca segurança, estabilidade financeira. O europeu que vem para cá, ele busca outra coisa. Busca um contato humano mais suave, vai se sentir mais valorizado também, e isso é inegável. São coisas que fazem o charme do Brasil. É claro que, se você ficar cinco anos no Brasil e você não conseguir uma situação boa, um trabalho bom, alguma hora você vai embora porque não vai compensar. Ou não, às vezes você gosta tanto da cultura que você fica. No meu caso é isso. Eu vim buscar aventura, enriquecimento pessoal. Não vim em busca de empreendedorismo, isso veio depois. Eu vim para aprender, mesmo.
GZH: tem um ditado que diz que Passo fundo é a capital do mundo. O que você espera ver na cidade?
P: isso é engraçado, vou usar no show! (risos) É engraçado porque quando a gente fala brasileiro na Europa, vem sempre o estereótipo do cara de pele morena que, na verdade, é mais um estereótipo que está ligado ao Rio, né? Mas a gente não vê o Brasil rural, o Brasil do Sul. A gente vê o Brasil do Rio e do Norte, talvez o Nordeste também. Mas o Brasil, ele é muito diverso. Por isso que sempre tem essa coisa. Não tem um rosto brasileiro, sabe? Todo mundo pode ser brasileiro.
GZH: Entre Paris e o pampa gaúcho cabem quantas histórias?
P: cabem milhares, e a mais linda eu vou contar ela no palco de Passo Fundo nesta sexta-feira. Gostou da frase de efeito, né? (risos)
Bate-bola com Paul Cabannes
GZH: churrasco ou chimarrão?
P: eu sou mais da carne, então vou falar churrasco.
GZH: Edith Piaf ou Teixeirinha?
P: a minha galera, os meus seguidores, são brasileiros, então tem que ser Teixeirinha!
GZH: champanhe ou caipirinha?
P: eu vou no champanhe, tenho que defender minha cultura. Mas também não preciso sair do Brasil pra apreciar um bom espumante, já provei vinho gaúcho e é bom mesmo. E geralmente é um pouco mais em conta que o vinho importado, então vale muito a pena.
GZH: colorado ou gremista?
P: quando o Suárez estava no Grêmio, eu teria falado o Grêmio. Agora o Gio Lisboa (humorista) é colorado, então vou falar o colorado pra ver se ele me convida a participar do show dele.
GZH: jeitinho brasileiro é...
P: às vezes legal, às vezes péssimo.
GZH: todo brasileiro deveria...
P: assistir ao meu show!
GZH: na minha mala para Passo Fundo não vai faltar...
P: eu ia falar a passagem, mas fica chato... não, não, eu sei o que eu vou responder. Não vai faltar espaço pra poder levar iguarias regionais.
GZH: Qual é a alma do brasileiro?
P: ah, isso é difícil de responder em uma frase porque eu faço um show de uma hora pra isso. Se for pra resumir, seria viver o momento. Saber viver o momento.
GZH: E qual é a alma do gaúcho?
P: o gaúcho é um povo que tem orgulho da sua cultura. Eu vejo ele como um cara receptivo, que gosta de tradições, que sabe viver, que quer comer bem, que quer viver bem e que tem um certo senso da conservação da sua terra. As cidades são, de forma geral, bem organizadas. Eu gosto bastante de ir pra Rio Grande do Sul, sabe? É um estado que me encanta.
Confira a agenda de shows
- Passo Fundo - 1º de março às 21h, no auditório do Colégio Notre Dame
- Porto Alegre – 2 de março às 20h, no Teatro do Bourbon Country
- Pelotas – 7 de junho às 20h, no Theatro Guarany
- Novo Hamburgo – 8 de junho às 20h, no Teatro Feevale
- Caxias do Sul – 9 de junho às 19h, no UCS Teatro