Por Simone Padilha, advogada e doutoranda em Direito Constitucional
Mesmo 92 anos após conquistarmos o direito ao voto feminino, e sendo mais da metade da população e 52% do eleitorado, o Brasil ainda tem uma das Câmaras Federais mais masculinas da América do Sul.
Com apenas 14,81% de deputadas, ocupamos o título de segunda pior representatividade feminina no G20. As mulheres no Congresso representam menos de 20% do Parlamento, e essa participação é ainda menor nas frentes de poder. Das 30 Comissões permanentes da Câmara, presidimos apenas 5.
Precisamos de protagonismo feminino, não apenas como candidatas, mas também como eleitoras
No Senado, com o maior número de senadoras da história (15 de 81 vagas), o cenário também é desfavorável: nunca tivemos uma presidente e, em 35 anos, só uma mulher foi vice-presidente em 2011. Embora tenhamos o maior número de mulheres eleitas da história, ocupamos o 135º lugar (entre 186 países) no ranking mundial de participação feminina, segundo o TSE.
Levaremos quase 150 anos para atingir a igualdade.
É claro que medidas como cotas e o Fundo Partidário são importantes, mas, sozinhas, não bastarão. Precisamos de protagonismo feminino, não apenas como candidatas, mas também como eleitoras. Sem isso, a mudança será lenta e insuficiente.
Nós, que representamos mais da metade dos votantes (e que, além de mães e educadoras da outra metade, somos 52% de todo o eleitorado), continuamos elegendo homens para decidir sobre tudo, inclusive sobre questões que dizem respeito exclusivamente a nós. A política também é nosso lugar. Nosso voto é a ferramenta mais poderosa para promover quaisquer mudanças.
Mas por que nós ainda não votamos em mulheres? Porque ainda precisamos superar a competição instalada entre nós. Precisamos ultrapassar a noção de que somos rivais e nos comprometer com a ideia de que, ao desqualificar outra mulher, estaremos sempre silenciando nossa própria voz.