Por Artur Jacobus, vice-reitor da Unisinos
O espectro da falta de professores na educação básica assombra os gestores educacionais brasileiros há alguns anos. Recentemente, porém, aquilo que era uma perspectiva sombria transformou-se numa incômoda realidade. A carência de professores é hoje um problema que atinge o Brasil de norte a sul.
Cada vez menos jovens se interessam pela carreira docente. Pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) já apontava, em 2018, que apenas 2,4% dos adolescentes brasileiros pensavam em ser professores. Nas escolas, a falta de profissionais adequadamente habilitados é mais sentida na segunda etapa do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. Estudo conduzido por pesquisadores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) revela que, nesses níveis de ensino, entre 33% e 40% dos docentes não têm formação adequada à disciplina que lecionam. A carência de professores é mais acentuada no Norte e Nordeste, mas também está presente no Rio Grande do Sul.
Estudo deste ano da OCDE mostra que os professores brasileiros trabalham mais do que os de países desenvolvidos e recebem salários bem inferiores
As principais causas do crescente desinteresse dos jovens pela docência são as mesmas em todos os países: baixos salários, desvalorização social da carreira e sobrecarga de trabalho. No caso do Brasil, a situação é mais crítica. Estudo deste ano da OCDE mostra que os professores brasileiros trabalham mais do que os de países desenvolvidos e recebem salários bem inferiores.
O enfrentamento desse problema demanda soluções inovadoras. Um bom exemplo é o Programa Professor do Amanhã, iniciativa do governo do Rio Grande do Sul. O programa oferece bolsas de estudo para cursos de licenciatura presenciais nas instituições comunitárias gaúchas. Neste ano de 2024, são cerca de mil alunos beneficiados de um total de 4 mil inscritos. A grande procura pelo programa revela que, quando há o devido estímulo, mais jovens se interessam pela carreira docente. Porém, apenas mil alunos beneficiados é um número que está longe de dar conta do tamanho do desafio. Iniciativas como essa precisam ter continuidade e ser ampliadas, ao lado de políticas públicas que tornem a carreira de professor mais atraente.