Por Valesca Karsten, educadora, proprietária da Escola de Educação Infantil Caracol e idealizadora do podcast PodeMãe
É difícil imaginar a vida sem tecnologia. Celulares, tablets e computadores fazem parte do nosso dia a dia, mas será que pensamos nos efeitos do seu uso excessivo? Vejo muitas crianças com limites de tempo de tela, o que é importante. E nós, adultos? Como ensinar nossos filhos a usar a tecnologia de forma saudável, se estamos sempre conectados? Estamos dando o exemplo certo?
Michel Serres, filósofo francês, trouxe em seu livro Polegarzinha (2012) a reflexão de que as crianças de hoje, nativas digitais, aprendem e se relacionam de forma diferente. Ele não critica a tecnologia, mas defende o uso equilibrado dela. Isso vale tanto para adultos quanto para crianças.
Além de controlar o tempo, precisamos ser 'guardiões' do que as crianças veem online, participar das atividades e garantir que o tempo off-line seja repleto de momentos criativos e de lazer, inclusive o ócio (tão fora de moda nessa época)
Percebo que a questão das telas vai além de proibir ou liberar. Trata-se de encontrar o meio-termo. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crianças de até dois anos não usem telas e que, até os sete, o uso seja limitado a uma hora por dia, sempre com supervisão de um adulto responsável. Entre sete e 12 anos, o limite passa para duas horas por dia, também com supervisão. Mas, se os pais estão sempre conectados, como esperar que as crianças façam diferente?
Jonathan Haidt, em Geração Ansiosa, diz que o uso excessivo de telas pode aumentar a ansiedade nos adolescentes. Já Pete Etchells, em Unlocked, acredita que o problema não está no tempo, mas em como usamos a tecnologia. O uso moderado e consciente pode ser benéfico.
O segredo pode estar em não proibir as telas, mas ensinar como usá-las com equilíbrio. Além de controlar o tempo, precisamos ser “guardiões” do que as crianças veem online, participar das atividades e garantir que o tempo off-line seja repleto de momentos criativos e de lazer, inclusive o ócio (tão fora de moda nessa época). A infância é o tempo de brincar, estar com outras crianças, estimular a criatividade, experenciar riscos calculados, verdadeiros ensaios para a vida.
O desafio está lançado: que tal nos reconectarmos com quem está a nossa volta?