Por Amilcar Fagundes Freitas Macedo, magistrado
A eleição, em uma democracia representativa, é a forma como o povo exerce o seu poder. É por intermédio dela que escolhemos as lideranças que irão governar nossas cidades, fazendo com que o poder realmente emane do povo. No entanto, com o advento das redes sociais, observa-se uma polarização extrema e um discurso de ódio que têm impactado o processo eleitoral. Nos últimos dias ocorreram os episódios da “cadeirada” e da “agressão física” em debates sem nenhuma proposta concreta a sensibilizar o eleitor, desvirtuando o processo eleitoral.
Nas redes sociais não tem sido diferente, com os embates descambando para ataques pessoais, fake news e memes agressivos, distorcendo a natureza do debate democrático. Formam-se “bolhas de opinião” nas quais adversários momentâneos se transformam em “inimigos”, que devem ser desumanizados, impedindo o respeito e a diversidade de pensamento.
Pessoas aceitam ideias de forma passiva, sem questionar, tornando-se agentes inconscientes de forças destrutivas, aceitando discursos de ódio e resistindo em reconhecer a legitimidade do outro
Lembrei de Dietrich Bonhoeffer e sua “teoria da estupidez”, que analisa o comportamento de grupos em um cenário de polarização. Foi escrita no auge da Segunda Guerra, mas parece que anteviu o que aconteceria em tempos de redes sociais. A estupidez representa um perigo maior para a sociedade do que a própria maldade. Deriva não da falta de inteligência, mas da ausência de reflexão crítica. Pessoas aceitam ideias de forma passiva, sem questionar, tornando-se agentes inconscientes de forças destrutivas, aceitando discursos de ódio e resistindo em reconhecer a legitimidade do outro.
O pleito se transforma em um “teatro de guerra”, em que cada um procura derrotar o “inimigo” como se ele fosse uma ameaça existencial. As redes sociais parecem ter encarnado o espírito de Carl Schmitt, defensor do nazismo, para quem “é de importância secundária quem é o inimigo. A chave é que existe um inimigo. Sem inimigo, não há política”.
Precisamos de “educação política”. Bonhoeffer nos ensinou que a estupidez não se vence com argumentos, mas com a promoção de condições sociais que incentivam a reflexão e o pensamento crítico.