Por Fernando Luiz Zancan, presidente da Associação Brasileira do Carbono Sustentável (ABCS)
Após assistir, no mês passado, a uma conferência sobre manejo de carbono sustentável, em Pittsburgh (EUA), foi possível compreender melhor como funciona uma política energética capitalista, mas também voltada para o interesse público. Todos os projetos financiados pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos têm uma análise ambiental, econômica e social. A visão norte-americana é pragmática: não abrir mão das indústrias que geram emprego e renda e, ao mesmo tempo, utilizar a tecnologia para eliminar os impactos ambientais.
Um verdadeiro pré-sal à espera de um olhar capitalista, mas com foco principal nas pessoas
Como gaúcho, formado em Engenharia de Minas pela UFRGS, sei que o Rio Grande tem no carvão o maior recurso energético do Brasil. Temos 54% da energia brasileira! Um verdadeiro pré-sal à espera de um olhar capitalista, mas com foco principal nas pessoas. É preciso combinar todo esse potencial com uma indústria moderna de captura e manejo de carbono, que respeite o meio ambiente, gerando renda e empregos de maior valor agregado.
Hoje temos Candiota como o município com o segundo PIB per capita do Estado e o 20° do Brasil. Tudo resultado do carvão mineral, abundante nessa região para mais de mil anos. Essa riqueza precisa ser olhada com sensibilidade e pragmatismo. Já existem projetos de desenvolvimento tecnológico visando fazer a transição ecológica e tecnológica do carvão mineral que as comunidades científicas do Brasil estão implementando com ajuda internacional.
Se essas iniciativas forem adiante, poderão contribuir muito para o desenvolvimento das regiões mineiras do Baixo Jacuí e da Campanha. Novos modelos de negócio, incorporando a produção de fertilizantes e de venda de créditos de carbono, podem alavancar a região de Candiota e o porto de Rio Grande. Temos a imensa oportunidade para reconstruir o Rio Grande utilizando seu patrimônio mineral. Nunca o Estado precisou tanto desses recursos. Não há tempo a perder. Nós, gaúchos, temos que olhar os bons exemplos no mundo, e não copiar discursos ideológicos ou eurocêntricos.