Resta muito para se considerar que a economia do Rio Grande do Sul readquiriu o dinamismo anterior à enchente de maio. Para as famílias, empresas, propriedades rurais e demais negócios diretamente atingidos, será uma longa e penosa jornada até o pleno restabelecimento. Ainda assim, é notável que alguns segmentos e indicadores demonstrem que o ritmo da atividade reage antes do esperado. São encorajadores dados recentes da indústria, do mercado de trabalho, do agronegócio e da arrecadação de impostos.
A enchente histórica deixou lições e consequências que escancararam desafios estruturantes para o Estado
Reportagem de Rafael Vigna publicada na edição de fim de semana de Zero Hora mostra a animadora perspectiva de que o Estado pode fechar 2024 com PIB positivo, a despeito da magnitude dos prejuízos e da recuperação ser desigual em termos setoriais e regionais. A produção das fábricas retornou a crescer em junho e julho. O Estado voltou a gerar postos de trabalho com carteira em julho, após as demissões de maio e junho. A Expoagas, que mobiliza supermercados e indústrias, movimentou R$ 704 milhões. A Expointer registrou recorde de R$ 8,1 bilhões em vendas e, conforme a Emater, o RS pode ter uma safra de verão de 36 milhões de toneladas. Isso sinaliza confiança no campo e um cenário positivo para 2025. A arrecadação de ICMS, principal imposto estadual, foi em julho e agosto superior aos mesmos dois meses de 2023, o que indica atividade aquecida, ainda que parte possa ser atribuída à injeção de recursos por programas oficiais.
Celebrar notícias alvissareiras não significa negligenciar quem perdeu a casa e segue à espera um teto ou esquecer da dor dos familiares de vítimas da enchente, da aflição dos que procuram emprego e da angústia dos empreendedores na luta para reerguer os seus negócios. Estes seguirão merecendo acompanhamento atento do jornalismo do Grupo RBS. Iniciativas como o Painel da Reconstrução monitoram pari passu as promessas de repasses de recursos dos governos aos cidadãos e às empresas afetadas. A ferramenta mostra que as companhias gaúchas já contrataram R$ 10,65 bilhões em crédito de programas federais e do Estado.
A enchente histórica também deixou lições e consequências que escancararam desafios estruturantes e que vão muito além de, no curto prazo, recolocar a atividade econômica no nível anterior ao da enxurrada. Uma das prioridades é recompor a infraestrutura e torná-la mais resistente a eventos climáticos extremos. Urge mostrar que o RS seguirá competitivo para reter e atrair investimentos e mão de obra qualificada e será protagonista em setores emergentes, como os vinculados à transição energética. Não é possível esquecer que, enquanto há esforços pela recuperação dos prejuízos causados pela chuva e exigem-se medidas para minimizar os danos de novas cheias, não há ainda resposta adequada para amenizar os efeitos das estiagens frequentes.
Outro tema definidor do destino do Estado, a exigir ações consistentes, é o demográfico. O RS será uma das primeiras unidades da federação a ver a sua população diminuir, a partir de 2027. Será imperioso implementar políticas capazes de aumentar a produtividade da economia e do trabalho, com atenção à qualidade do ensino, à inovação e à incorporação de tecnologia.