Vários Estados brasileiros estão sendo atingidos por uma onda avassaladora de incêndios que já causam estragos sem precedentes em áreas rurais e urbanas, com vítimas humanas e animais, ameaças à saúde pública, destruição de biomas, de plantações e até da infraestrutura urbana. A situação é tão alarmante que o governo federal está enviando ajuda e reforços de brigadistas para combater o fogo nas regiões mais atingidas, além de ter determinado rigorosa investigação por parte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) e da Polícia Federal. Na maioria dos casos, já se sabe, as chamas têm sido provocadas por ação humana, originando-se de queimadas destinadas ao desmatamento e à limpeza de áreas para o plantio, embora haja também a suspeita de incêndios criminosos até com motivações políticas.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre 1º de janeiro e o último domingo, foram registrados 107.133 focos de queimadas no país, 75% a mais em relação ao mesmo período de 2023
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre 1º de janeiro e o último domingo, foram registrados 107.133 focos de queimadas no país, 75% a mais em relação ao mesmo período de 2023. Todos os Estados brasileiros têm sido atingidos pelo fenômeno, embora chame mais atenção as grandes áreas devastadas na Amazônia, no Pantanal e, mais recentemente, em diversas cidades de São Paulo. Mesmo o Rio Grande do Sul, que ultimamente tem sofrido mais com inundações do que com a seca, ocupa uma colocação intermediária no ranking do Inpe, com mais de 1,1 mil focos de incêndios durante o ano.
Ainda que as investigações policiais devam prosseguir com o rigor necessário, o grande vilão deste desastre ecológico nacional já foi suficientemente identificado pela ciência e atende pelo nome de “mudanças climáticas”. O clima seco e quente, resultante do desmatamento e da emissão de gases que formam o aquecimento global, associado ao regime de ventos formam o ambiente ideal para a propagação das chamas, que até podem surgir de forma espontânea, mas, invariavelmente, têm sido originadas pela ganância, pela ignorância e pelo descaso criminoso de seres humanos com a natureza. É o que se percebe na ação de irresponsáveis, grileiros e garimpeiros que destroem propositadamente imensas áreas de campos e florestas motivados por interesses econômicos. Em muitos casos, a intenção é a renovação de pastos, a eliminação de vegetação rasteira e a retirada de madeira para a comercialização, mas a perda de controle das chamas acaba causando danos ambientais irreversíveis.
Além do combate pontual aos incêndios acidentais e criminosos, como acaba de fazer o governo de São Paulo para conter uma onda de destruição que atingiu quase meia centena de municípios daquele Estado, é impositivo que as autoridades e os órgãos públicos especializados se concentrem mais na prevenção, especialmente nas áreas mais afetadas pela seca. Nesta condição, de acordo com o Sistema Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), encontram-se atualmente mais de 3,8 mil municípios do país — o que exige monitoramento constante por parte dos governantes, orientação adequada às populações e repressão implacável aos criminosos.