Por Fábio Bernardi, sócio-diretor da HOC
Eu tenho um hábito excêntrico: leio jornais. E leio jornais todos os dias, assim mesmo, no plural. E sabe o que é pior? Quanto mais leio, mais burro fico. Porque fico na dúvida, por exemplo, se podemos proteger a democracia com métodos autoritários. Tem horas que respondo sim, quando acho que o risco é grave demais; em outros momentos penso que não, quando acho que a liberdade de expressão é protegida na Constituição custe o que custar. E a dúvida aumenta quando leio artigos, matérias e colunistas que embasam um lado e outro com maestria. E me dou conta da minha burrice quando saio dos jornais e caio nas redes sociais, quando todos já sabem tudo e não têm dúvida nenhuma.
Tudo que eu estou sabendo no momento é que eu não sei
Pois é, eu não sei vocês, mas tudo que eu estou sabendo no momento é que eu não sei. Olho para o Brasil e o mundo e não sei um monte de coisas. Ao contrário de mim, a maioria parece que sabe tudo. Basta ler um site ou uma rede social e aparecem os donos da verdade, cuspindo regra, moral, conselho ou xingamento. Como se destilar o melhor petardo agressivo ou manifestar paixão por um lado da discussão fosse um atestado da qualidade do argumento. É a prova de um fenômeno: o Brasil tem uma enorme dificuldade de pensar. Vamos nos apequenando na discussão do dia a dia, da superfície, da espuma, da subnotícia, do subprotesto ou da subcelebridade. Com a maior tranquilidade viramos autoridade em liberdade, censura, guerra ou procedimento estético. E assim vamos assistindo, de um lado, ao crescimento da intolerância, e de outro, a uma derrota da relevância.
Gostamos é de reclamar e de ampliar a reclamação. Difícil, mesmo, é a troca de ideias, que pressupõe duas coisas: uma ideia a ser trocada e ouvir com disposição de trocá-la. E ambas estão escassas numa sociedade cada vez mais sectária e bélica em suas posições ideológicas, religiosas, sociais e até culturais.
Se olharmos o momento, há vários temas relevantes e com potencial transformador em pauta no Brasil e no Rio Grande do Sul. Estão sendo debatidos com a seriedade, a profundidade, o conteúdo e o senso de coletividade que merecem em um mundo que se transforma exponencialmente? Ou estamos apenas vendo quem grita mais alto sobre qualquer coisa que gere apenas mais gritaria?
Eu não sei muita coisa, mas vou continuar por aqui, lendo de tudo e de todos, para melhorar a qualidade da minha ignorância.