Por Gabriela Ferreira, consultora em inovação e professora da PUCRS
A paridade de gênero é um desafio global: nas dimensões econômica, de saúde, educação e participação política, as mulheres estão atrás dos homens. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho, 15% da população feminina com idade ativa no mundo, contra 10,5% dos homens, gostaria, mas não tem um emprego. Essa lacuna é especialmente grave nos países em desenvolvimento, onde 24,9% das mulheres não encontram uma vaga, contra 16,6% dos homens. E ela pode ser ainda maior: dados do Dieese mostram que, no Brasil, no quarto trimestre de 2023, embora com melhora em relação ao ano anterior, enquanto as mulheres representavam 54,3% dos desocupados, 35,5% eram negras. Salários e posições de liderança seguem a mesma desigualdade. Em 2015, o Fórum Econômico Mundial indicou que a equidade de gênero no mercado de trabalho ocorreria em 2095. Em 2023 essa expectativa foi arremessada para o ano de 2154.
A igualdade de gênero no mercado de trabalho aumentaria em 30% o PIB do Brasil
Para além de um discurso adequado, como apontam – e se comportam – alguns, a evolução nesse tema é lucrativa. Estudo da consultoria McKinsey concluiu que a paridade de gênero elevaria o PIB mundial em US$ 28 trilhões até 2025. No Brasil, o PIB poderia aumentar 30%.
Então, a pergunta que fica é: por que essa desigualdade persiste, mesmo que impedindo uma melhoria para todas as pessoas? E a resposta é simplesmente complexa: cultura.
Claudia Goldin, que foi a terceira mulher a vencer o Prêmio Nobel de Economia, foi laureada em 2023 por, usando dados de mais de 200 anos, ter apontado o casamento como fator que explica a menor presença feminina no mercado de trabalho: o papel de cuidadora da casa e da família impacta direta e negativamente a sua participação.
Resultado semelhante encontra-se no relatório do Banco Mundial “Mulheres, as empresas e a lei”, de 2024, que mostra como os cuidados infantis e a falta de segurança reduzem sua participação no mercado de trabalho.
Para além do casamento em si, persiste a crença de que somente as mulheres são cuidadoras e que, por esse dom divino, são obrigadas a cuidar. Sejam maridos, filhos ou pais, essa lógica está cristalizada na sociedade e, se isso não mudar dentro de casa, não haverá transformação fora dela. É preciso repensar, também, o que é mercado de trabalho, e a isso a economia do cuidado se dedica, quantificando o valor econômico dessa fundamental atividade invisível.
De qualquer forma, o caminho é um só: enquanto nos dedicarmos às consequências e não atuarmos nas causas, não vamos andar. Não para a frente, pelo menos.