Alfredo Fedrizzi, conselheiro e consultor
Outro dia, conversando com um amigo, lá pelas tantas ele me disse: “Peço para pararmos, pois essa conversa está me deixando tenso”. O tema era um dos piores conflitos que estamos vivendo. Tema sensível, sem dúvida. Paramos, em outro dia vamos retomar a conversa com um tema mais ameno.
Lembro, com certa saudade, de quando podíamos falar de qualquer tema ou abordagem. Escutar tinha um desejo de conhecer o ponto de vista do outro, representava intimidade, aprendizado, trocas. As pessoas escutavam, depois manifestavam seus pontos de vista e a conversa seguia adiante. Havia menos rótulos e julgamentos. Não havia tantas certezas. Sinto que tínhamos mais abertura para o olhar do outro.
Em parte, essas tensões se devem à assimetria e à confusão que tomou conta do mundo, com muita informação equivocada circulando. Como diz um dos participantes do podcast Elefantes na Neblina, “tem muita gente andando para frente, rumo ao século 22, e muita gente andando para trás, voltando ao século 2. Voltando a funcionar de uma forma mais primitiva do que era enquanto existia alguma ordem”.
Temos acesso a quase tudo do pensamento do outro
Tudo isso é turbinado pelas redes sociais, que mais desinformam do que informam, dificultando saber o que é verdade e o que é mentira. Além disso, cresce o uso da inteligência artificial, possibilitando a criação de vozes, diálogos, vídeos e até rostos de pessoas que nunca existiram. Tudo ao alcance de muita gente e custando quase nada. Em poucos anos vamos ter um mundo muito diferente do que conhecemos até aqui. Há quem diga que até acessar o pensamento do outro será possível. De positivo, sabemos que nunca houve tanta informação e conhecimento acessível para tantas pessoas. Nada mais está guardado.
Com isso, podemos pensar que o mundo se tornou mais transparente, pois sabemos como as pessoas, organizações e governos realmente pensam e agem. Muitos comportamentos ficaram escancarados. Mas também nunca tivemos tanta gente ansiosa e irritada. Tanta desigualdade. Tantos problemas migratórios e tantos (170) focos de guerras. Muitas instituições encontram-se desacreditadas e suas decisões servem para pouca coisa. As pessoas que tínhamos como referência, que nos davam certa base de pensamento e tranquilidade, estão escassas. Agora, com muita gente se informando apenas das suas “fontes confiáveis”, que pensam igual, tornou-se mais exigente a construção de conversas nas quais o interesse pelo modo de pensar do outro esteja presente.
Sinto que uma grande revolução está por vir, não só de tecnologia, mas de vida em sociedade. Enquanto não conseguimos um mundo melhor, o que nos resta é cuidar de nós próprios e dos pequenos espaços onde podemos fazer a diferença. Enfim, cuidar no micro e desejar que isso possa irradiar para a vida que desejamos ter enquanto sociedade.