Alfredo Fedrizzi, conselheiro e consultor
Uma das figuras mais contraditórias que influenciam a política mundial há 23 anos é Vladimir Putin, presidente da Rússia. No livro Na Cabeça de Putin, o filósofo francês Michel Eltchaninoff, especialista em história do pensamento russo, trata da complexa personalidade, de influências e motivações dele. Analisou discursos desde a posse, em 2000, e livros de pensadores russos que o inspiram. Antes de assumir, Putin falou do desejo de “devolver ao país o prestígio e o protagonismo no mundo”. Argumento muito parecido com o do seu amigo Donald Trump.
O livro mostra como Putin “adapta o discurso às circunstâncias políticas e não se prende a nenhum tipo de algema ideológica, cercado de redatores que lhe oferecem referências filosóficas múltiplas e mutáveis”.
O autor francês analisou discursos desde a posse, em 2000, e livros de pensadores russos que o inspiram
Putin e seus inspiradores enaltecem a superioridade cultural e genética dos russos: “Os ocidentais são crianças confusas e mimadas. A Rússia é um país adulto e responsável”.
Para “moralizar o povo”, aliou-se à Igreja Ortodoxa Russa. “Assumiu o controle dos principais órgãos de comunicação, prendeu ou expulsou os donos e decidiu que os governadores seriam nomeados por ele. Apelou ao patriotismo, à religião, às organizações militares. Mais do que a qualquer ideologia comunista, o “amor à pátria”! Nunca acreditou no comunismo. Só cita Marx para criticar.
Para ele, a KGB-FSB era o corpo de elite da pátria soviética. O ideal era uma polícia política no poder, livre da tutela do partido. “Agora, no nosso país, graças a Deus, já não há partido no poder, já não há uma ideologia comunista de Estado.” O putinismo apoia-se em dois princípios: a ideia de império e a apologia à guerra. Em três palavras: messianismo, imperialismo, belicismo.
Pensadores que inspiram Putin são adeptos à violência como forma de poder. Ivan Ilyin, anticomunista visceral, citado por Putin, diz: “...nos princípios sobre os quais o Estado russo deve ser construído, o soldado ocupa uma função elevada e honorária, pois representa a unidade de todo o povo russo, a vontade, a força e a honra do Estado”. Para ele, depois do fim do comunismo, a salvação seria a “ditadura nacional”, na qual eleições não são importantes.
A intenção de restaurar a grandeza russa aparece em várias partes do livro. “Acima de tudo, deve reconhecer-se que a queda da URSS foi a maior catástrofe geopolítica do século.” “A Rússia tem tudo a ganhar afrontando o Ocidente sem fraquejar.” Aleksandr Dugin, “guru” de Putin, já previa: “Em menos de três anos, tomará parte da Ucrânia”. No livro do filósofo Nikolai Daniliésvsky, inspirador da política de Putin, consta a ideia de levar a cabo a “via russa”, por meio de um confronto com a Europa Ocidental. Segundo o autor, Putin conta com a chegada de partidos populistas e de extrema direita ao poder para se tornar líder da Europa. Por isso, tenta construir e estreitar laços com esses movimentos.