Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
É possível que você já tenha torcido o nariz só com o título deste texto. Eu teria. Propósito se tornou uma expressão adorada, cheia de significado, ou questionada, justamente por eventual vazio de significado. Enquanto uma noção robusta de direção e motivo, ter um propósito é algo, no mínimo, bem-vindo para qualquer empreitada na vida – o que inclui os negócios.
Nas últimas duas décadas, em especial, questões sociais e ambientais passaram a habitar o contexto do propósito das organizações. O movimento ESG, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a consolidação de diversos movimentos da sociedade civil organizada, tudo isso turbinou a ideia de propósito para as empresas. Mas, afinal, em negócios, como isso se materializa?
Propósito é algo mais profundo do que apenas sinalizar ao mercado consumidor valores que ele gostaria de identificar
Do ponto de vista da microeconomia, uma empresa é um ente com duas características fundamentais: fornece um bem ou um serviço que a sociedade deseja; e faz isso tentando maximizar o seu lucro. Então, como uma empresa pode ter qualquer outro propósito que não o de ser eficiente na sua atividade e ser lucrativa? A resposta passa pela própria sociedade na qual esta empresa está inserida...
Ser ambientalmente responsável, por exemplo, tem deixado de ser uma questão apenas de conformidade legal e conquistado status de estratégia de negócio. A sociedade, de forma mais sistemática, tem prestado atenção e, de alguma forma, demandado isso dos negócios. Os consumidores têm demonstrado estarem atentos ao comportamento das empresas em áreas como a sustentabilidade ambiental, por exemplo.
Acontece que propósito é algo mais profundo do que apenas sinalizar ao mercado consumidor valores que ele gostaria de identificar. Quando esses valores não estão na raiz do negócio, não fazem parte do seu propósito. Ter questões sociais e ambientais como propósito implica, inclusive, deixar de lado, por exemplo, lucro de curto prazo para aderir a valores que se acredita válidos para sociedade – como redução de emissões, igualdade de gênero, direitos humanos etc.
Que 2024 seja um ano em que o propósito se consolide como algo verdadeiro no mundo dos negócios, representando aquilo que de fato é: o pilar de valores das organizações, guiando-as para um futuro mais sustentável e justo para todos.