Por Adalmir Marquetti, professor de economia da PUCRS
A eleição presidencial na Argentina desperta forte atenção por razões políticas e econômicas. A Argentina ocupa a terceira posição nas relações comerciais do Brasil e do Rio Grande do Sul. A disputa política reflete o cenário brasileiro de 2022.
Sergio Massa representa a perspectiva de a Argentina adotar um projeto de desenvolvimento nacional, associado ao Brics e a uma nova ordem internacional. Já o programa econômico de Javier Milei é baseado em um neoliberalismo tardio e conservador, subordinado aos Estados Unidos.
Sergio Massa – atual ministro da Economia em um país com inflação de 138% – como candidato à presidência parece uma contradição. A incapacidade de controlar a taxa de câmbio devido à dívida externa e às reservas reduzidas é a causa da inflação. O governo neoliberal de Mauricio Macri aumentou a dívida externa em 82%, que atingiu US$ 280,6 bilhões em 2019. Similar a Carlos Menem, o governo Macri permitiu um maior fluxo financeiro internacional, facilitando o envio de dólares ao Exterior.
Sergio Massa representa a perspectiva de a Argentina adotar um projeto de desenvolvimento nacional
A redução drástica do tamanho do Estado e a dolarização proposta por Milei levariam a maior transferência de renda aos setores mais ricos, que independem de políticas públicas e buscam se integrar aos Estados Unidos. A Argentina renunciaria à política monetária, situação mais desafiadora do que o câmbio fixo adotado por Menem nos anos 1990, que causou a grave crise do início dos anos 2000 e levou a emergência política de Néstor Kirchner.
Milei é a versão argentina de políticos conservadores extremistas e pode representar uma ameaça à estabilidade política de um país com grandes dificuldades econômicas. Na campanha, Milei hostilizou o Mercosul e a China, os principais parceiros comerciais da Argentina.
Massa representa a possibilidade de implementação de um projeto de desenvolvimento nacional capaz de propiciar o controle das contas externas, a redução da inflação e o crescimento econômico. Contudo, superar a difícil situação econômica requer um consenso político complexo de se obter atualmente.
A importância da eleição na Argentina ultrapassa as fronteiras nacionais, com repercussões econômicas e políticas para a América Latina, com destaque para o Brasil. A vitória de Milei aumentaria as incertezas, reduzindo a possibilidade de a Argentina manter parceria comercial sólida com o Brasil. Já a vitória de Massa possibilitaria o avanço de uma agenda comum entre os dois países. A decisão cabe aos eleitores argentinos.