Por Daniel Randon, presidente da Randoncorp e do Conselho do Transforma RS
A dor de famílias enlutadas e sem teto devido às últimas tragédias no Rio Grande do Sul gera comoção pelos fatos retratados e pela força da rede de solidariedade, que merece aplausos. A repetição de acontecimentos tão estarrecedores em diferentes Estados e países, entretanto, reforça a sensação de dever não cumprido, da lição não aprendida, da providência não tomada ou mal tomada.
Melhor repensar estratégias e soluções em bases sólidas para mitigar futuras tragédias naturais
Como mostra a história, muitos povos construíam as cidades próximo aos rios, facilitando o desenvolvimento, ainda que no Brasil a rigorosa lei ambiental não recomende; um risco que pode virar pesadelo. O avanço da urbanização desordenada, que obrigatoriamente leva ao caos, no entanto, é assistido repetidamente pela sociedade, especialmente pelos planejadores públicos, a quem cabe entregar um bom plano diretor, adequados sistemas de escoamento e de saneamento básico, além de planos de contingenciamento e prevenção de riscos.
É importante aproveitar o momento de solidariedade e união das pessoas, utilizando exemplos de cidades que foram refeitas após serem parcial ou totalmente destruídas, para repensar as bases da reconstrução. A frágil infraestrutura grita por socorro, o mesmo socorro demandado, por exemplo, pela vizinha Santa Catarina, vítima de recorrentes tragédias no mesmo endereço.
Seja no Vale do Taquari, em Blumenau, na região serrana do Rio de Janeiro, em Recife, na Alemanha, ou em outro local, o fato é que a natureza se rebela exigindo melhores planejamentos urbanos com cuidados no crescimento desordenado, a impermeabilização do solo e maiores investimentos em infraestrutura de drenagem.
Além das vidas perdidas e dos locais destruídos, o saldo negativo ameaça o futuro próximo, considerando que também terão que ser recuperadas empresas e mantidos os empregos, fonte de dignidade e de prosperidade. A mazela econômica e social pressupõe pressa, urgência, celeridade e assertividade nas tomadas de decisões.
A engenharia nacional e a gestão pública podem criar saídas inovadoras e definitivas para estancar ou minimizar catástrofes. É reconfortante saber que o governo gaúcho vai antecipar os alertas com a melhoria da comunicação e com o aperfeiçoamento dos equipamentos em nome da preservação das vidas. Nosso papel agora é trabalhar para ajudarmos as vítimas deste caos, não só materialmente, mas também no apoio psicossocial, para que as pessoas possam superar as suas perdas, recuperar a sua dignidade e o sentimento de pertencimento e assim reconstruírem as suas vidas.