São recorrentes nos últimos anos, em médias e grandes cidades, reclamações de cidadãos sobre o emaranhado de fios em postes de energia elétrica. As imagens, principalmente em zonas centrais, de fato impressionam. Se as queixas são repetidas, por certo ainda não foi possível dar uma resposta satisfatória para resolver a questão. Mesmo que, a cada onda de protestos, poder público e concessionárias anunciem mutirões para remover a fiação em excesso e sem uso.
Deveria se esperar que cessasse o jogo de empurra e a lei que prevê sanções para o excesso de fios em postes fosse, de fato, cumprida
O enovelado de fios é um horror visual, mas não se constitui apenas em um problema estético. Os cabos pendentes e caídos se transformam em um fator de risco para transeuntes, inclusive de acidentes fatais, no caso de fios energizados. A ameaça cresce com a elevação dos casos de furtos de fios, o que aumenta o perigo de rompimento de cabos.
O tema foi outra vez abordado em reportagem na última quarta-feira em Zero Hora, pela constatação de que a situação voltou a chamar atenção na Capital. A população de Caxias tem reclamações semelhantes. Tanto que, em abril, foi iniciada uma ação conjunta entre a prefeitura, a concessionária de energia RGE e os operadores de telefonia e internet para a remoção do excesso de fios. Em uma das operações, ao longo de 500 metros de vias foram recolhidas cerca de cinco toneladas de material. Em regra, são as companhias de serviços de telecomunicações que aproveitam os postes para colocar seus fios, sem retirá-los mesmo quando ficam antigos e são desativados. O emaranhado, assim, vai se formando e ganhando volume.
As legislações municipais sobre o assunto até aqui, ao que parece, são inócuas. Em Porto Alegre, uma lei de 2018 prevê multa de cerca de R$ 4 mil para as empresas da área de telecomunicações que mantivessem fiação em excesso e sem utilização. A CEEE Equatorial chegou a anunciar, no final de 2021, a organização de mutirões para retirar fios aéreos em demasia. Pelo que se constata nas ruas, a notificação de operadoras, as multas e as forças-tarefas em alguns pontos da cidade não trouxeram os resultados esperados.
A solução estrutural conhecida é enterrar a fiação, deixando de usar postes. Mas, sabe-se, é uma alternativa que esbarra nos custos. Mesmo assim, já é empregada em alguns municípios, como Gramado, onde a poluição visual do bolo de fios pendurados seria terrificante para os turistas. Em abril, o prefeito da Capital, Sebastião Melo, sancionou lei aprovada no final de 2022 pela Câmara de Vereadores para que, em 15 anos, toda a infraestrutura de energia e telecomunicações seja subterrânea. A lei também prevê que novos projetos e edificações sejam planejados para não ter fiação aérea. A implantação será responsabilidade das empresas da área. Trata-se de uma evolução necessária. O prazo, no entanto, é largo. Até lá, deveria se esperar que cessasse o jogo de empurra e a lei que prevê sanções para o excesso de fios em postes fosse, de fato, cumprida.