Alfredo Fedrizzi, conselheiro e consultor
A inteligência artificial (IA) existe há muitos anos. Só que agora circula muita desinformação, causando medo e apreensão em muita gente. O jornal português Público fez uma entrevista com a alemã Joanna Brysin, especialista no assunto e em psicologia. Desde 1990, ela viaja pelo mundo aconselhando governos, empresas e ONGs sobre tecnologia.
Com sólida formação em tecnologia (MIT) e ciência comportamental (Universidade de Edimburgo), Joanna diz que o maior erro é vermos características humanas em programas informáticos. Afirma que as máquinas nunca vão ser como humanos porque as nossas capacidades são baseadas nos problemas de uma espécie que tenta coordenar-se com outros seres do mesmo tipo para sobreviver. Por trás de qualquer sistema de IA, estão humanos e empresas que criam os sistemas. Muito do pânico em torno do assunto vem de um setor que não foi adequadamente regulado durante demasiado tempo. As tecnológicas não podem depender apenas de autorregulação. Precisamos estar atentos às empresas por trás da tecnologia. E também de quem a usa.
Os governos estão fazendo agora o que já deveriam ter feito: regular o setor
Como é que um modelo pode dominar o mundo? A máquina não se programa sozinha. Temos que criar um senso crítico, ajudar as pessoas a questionar de onde vêm as mensagens que recebem. Tim Berners-Lee, criador da internet, diz que seu maior erro foi não ter pensado na capacidade das pessoas de mentir e criar esquemas para enganar os outros. A abordagem da União Europeia com a lei da IA faz sentido: nunca devemos ficar na dúvida se uma ferramenta usa ou não a inteligência artificial. Precisamos de clareza.
Os governos estão fazendo agora o que já deveriam ter feito: regular o setor. Não faz sentido falar de dados imparciais porque os dados refletem o nosso mundo, cheio de preconceitos. Não podemos programar uma máquina para evitar o preconceito. Podemos programá-la para perceber o que é um estereótipo. “Isto é racismo, não expresse isto.” Temos de garantir que os algoritmos foram bem treinados. É preciso ter o direito de contestar as decisões das máquinas. As pessoas subestimam o quanto é prejudicial o que as empresas ou os governos podem saber sobre nós.
É possível usar as redes sociais para perceber quem é vulnerável a determinados argumentos e depois abordar essas pessoas em outros ambientes. A perita alemã conclui que “É essencial expor como a tecnologia funciona. Todos nós precisamos adquirir o hábito de verificar de onde vem a informação que recebemos e para onde vai nos levar. Acho que as pessoas estão começando a refletir mais sobre o que é uma fonte de informação confiável. As pessoas que investem em boa comunicação vão ganhar”. Não é uma questão de escolha, e sim de aprender a conviver com a inteligência artificial.