Finalmente o desmatamento da floresta amazônica parece ter começado a regredir. Dados oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que 328,71 quilômetros quadrados da Amazônia brasileira foram desmatados no mês passado, queda de 68% em relação a abril do ano anterior e inferior à média histórica de 455,75 quilômetros quadrados por mês. Embora o registro expresse claramente um recuo na destruição florestal depois de dois meses consecutivos de alta, especialistas no assunto lembram que ainda é cedo para celebrar, pois o pico anual do desmatamento costuma ocorrer entre julho e setembro. Mesmo assim, o levantamento demonstra a importância de retomada da agenda ambiental pelo atual governo, que assumiu compromisso de acabar com o abate da floresta até 2030.
É lamentável que o país tenha chegado a este ponto por causa da incúria de seus governantes, especialmente de administrações indiferentes ou mesmo hostis à causa ambiental
Por conta do desleixo histórico de sucessivos governantes com a exploração criminosa da região e suas consequências para o meio ambiente e para os povos originários, a imagem que mais representa o Brasil no Exterior, atualmente, é o triste quadro das crianças yanomami subnutridas, que só recentemente começaram a ser atendidas pelos serviços de saúde pública. Tanto é assim que, no primeiro diálogo com o rei Charles III, durante a recente cerimônia de coroação, o presidente brasileiro ouviu um apelo do monarca britânico: “Cuide da Amazônia”. Para tanto, alguns países europeus, entre os quais o próprio Reino Unido, investem recursos no Fundo Amazônia – um instrumento para capitalização de doações direcionadas a ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento.
É justamente pela falta de prevenção que o governo brasileiro está sendo obrigado a travar uma verdadeira guerra interna para recuperar o terreno perdido. Agentes da Força Nacional de Segurança Pública, do Ibama e da Funai vêm enfrentando diariamente o crime organizado que tomou conta de extensas áreas florestais para instalar suas indústrias de destruição e poluição ambiental. Os criminosos montaram uma infraestrutura inacreditável, com aviões, pistas de pouso, tratores, residências, comércio, antenas de internet, geradores, combustíveis e armamentos.
É lamentável que o país tenha chegado a este ponto por causa da incúria de seus governantes, especialmente de administrações indiferentes ou mesmo hostis à causa ambiental. No ano passado, por exemplo, a Funai remeteu para o Ministério da Justiça um relatório detalhado do garimpo em terras indígenas, identificando mais de 80 pontos de exploração, 18 pistas de pouso, rios manchados de mercúrio e áreas de conflito entre índios e garimpeiros. Mas os governantes de plantão preferiram engavetar os documentos para não atrapalhar a campanha eleitoral.
Agora, para expulsar os invasores, o Brasil vive a sua guerra civil ambiental. Depois de fechar o espaço aéreo do território indígena yanomami para evitar a fuga de criminosos, as forças governamentais já apreenderam aeronaves, mantimentos, embarcações e armas, destruindo acampamentos e máquinas de dragagem em incêndios que sempre causam espanto quando apresentados pelos jornais televisivos. Mas significam, também, que o país está recuperando sua floresta, uma vida mais digna para os habitantes originais e a credibilidade internacional.