Por Fabio Brun Goldschmidt, advogado tributarista
Quando viajei para a Etiópia, fiquei interessadíssimo pela história da arca perdida, a chamada Arca da Aliança. Supostamente, essa arca lendária se encontra lá, na cidade de Axum, e nela estão guardados os dez mandamentos. A arca, no entanto, está escondida dentro de uma igreja, protegida por um sacerdote, e ninguém pode ter acesso a ela, salvo o próprio guardião, que jamais sai de lá. Consequentemente, ninguém sabe se a arca existe ou não. Ou se se trata da arca original ou de uma réplica.
A situação fez lembrar um pouco do Brasil atual e da polêmica que se estabeleceu em torno das urnas eleitorais
A situação fez lembrar um pouco do Brasil atual e da polêmica que se estabeleceu em torno das urnas eleitorais. Muitos querem examiná-las, e o guardião afirma que elas estão bem protegidas, hígidas, imaculadas. E que devemos ficar tranquilos, dispensando qualquer outra interação com a nossa arca, além dos ritos e confirmações de autenticidade a que já foi submetida.
Não vou entrar aqui na polêmica sobre a confiabilidade das auditorias feitas. Limito-me a tecer um comentário sobre o tom das reações às iniciativas daqueles que indagam sobre a credibilidade do processo.
Estudei em um colégio que não era famoso pelo rigor acadêmico, mas era conhecido por preparar “para a vida” e dar muito jogo de cintura para as crianças que o frequentavam. E lá aprendi que, quando alguém zoava comigo, a pior reação que poderia ter era me enfurecer, reagir, tentar perseguir ou falar mais alto. Porque, daí sim, o apelido pegava, a acusação se convertia em verdade, já que parecia ter atingido um ponto fraco.
Não fui até a igreja em Axum. Mas, ao que sei, não se amaldiçoa todo aquele que tenta nela entrar ou que questiona se a arca está lá. As regras são informadas pela igreja e ponto. Ali termina sua função. No final do filme Indiana Jones, os nazistas obtêm a arca e abrem-na, para sobre eles recair todo o mal, o que talvez dê razão ao guardião. O problema é que ele não frequentou o meu colégio. E segue aumentando o tom, fazendo o apelido pegar.