É lastimável que o grande entrave para o término de todas as obras relacionadas à ampliação da pista do aeroporto Salgado Filho persista, quando se imaginava que, a esta altura, seria algo superado. A concessionária alemã Fraport, que opera o terminal desde 2018, informou durante a semana que está paralisando os trabalhos, em fase final, por ainda aguardar a remoção de 70 famílias que residem no entorno do aeroporto, na Vila Nazaré. A realocação é necessária para a construção da área de segurança ao fim da pista, que ganhou a tão esperada extensão de mais 920 metros, mas ainda não pode ser usada. É frustrante, mas a possibilidade de pousos e decolagens de aeronaves de maior porte, aguardada há duas décadas e meia, fica mais uma vez adiada. A Fraport esperava entregar a obra ainda em 2021, postergou para agosto de 2022 por dificuldades relacionadas à pandemia, ainda dentro do prazo estipulado pela Agência Nacional da Aviação Civil (Anac), mas agora admite que vai precisar de mais tempo.
A finalização da obra no aeroporto Salgado Filho é prioritária para o Estado e de interesse da Fraport
O principal obstáculo é a demora do poder público em remover as famílias que vivem na área e merecem ter todos os seus direitos respeitados. Há um ano e meio, o então prefeito Nelson Marchezan considerava que seria possível cumprir a missão até março. Em janeiro, a previsão feita pelo atual vice-prefeito, Ricardo Gomes, era de que a maratona chegaria ao fim ainda em fevereiro. Felizmente já há moradias novas e em condições dignas garantidas, mas grande parte dos moradores se nega a deixar o local. As audiências conduzidas pela Justiça Federal para tentar chegar a bom termo sofreram com descontinuidade devido à crise sanitária. Noticia-se que agora foram retomadas e espera-se que sejam aceleradas, permitindo o fim do impasse.
A pista curta do Salgado Filho é considerada um dos principais gargalos logísticos do Estado, com perda de competitividade como consequência. A extensão atual limita a operação, por exemplo, de aviões cargueiros de grande capacidade. O resultado é que uma mínima fração das exportações de empresas gaúchas que chegam por via aérea a outros países decolam de Porto Alegre. A maior parte é despachada de terminais paulistas. As perdas são generalizadas. Atividades relacionadas ao comércio externo deixam de ser realizadas no Estado. As companhias têm o custo adicional do transporte rodoviário até os aeroportos paulistas, o que mina a competitividade dos negócios, especialmente de indústrias voltadas à manufatura de produtos de maior valo agregado e que precisam de entregas rápidas para os clientes no Exterior.
A finalização da obra de ampliação da pista do Salgado Filho, portanto, é prioritária para o Estado e de interesse da Fraport, apesar de também ser uma obrigação contratual da concessão. Órgãos públicos envolvidos nos trâmites de remoção das famílias, portanto, precisam dar agilidade ao processo para que essa espera de mais de 25 anos chegue então ao fim, se possível ainda em 2022.