Grande parte da efetividade da decisão do governador Eduardo Leite de colocar todo o Rio Grande do Sul sob a bandeira preta por nove dias, deste sábado até o dia 7, vai depender do grau de adesão de lideranças locais, como os prefeitos. Mesmo acertado, um canetaço de cima para baixo não bastará se, nos municípios, vozes dissonantes forem compreendidas pelas comunidades como a sinalização de que os protocolos não precisam ser rigidamente cumpridos. Mais do que não contestar a diretriz do Piratini, tomada a partir da orientação do Comitê Científico do Estado e dos números assustadores da covid-19, é preciso engajamento. Caso contrário, o vírus continuará vencendo, e a quantidade de mortes, se elevando a cada dia, com o colapso do sistema de saúde.
Toda a energia deve ser direcionada para salvar o maior número possível de vidas
Um caso exemplar de desarmonia é o que envolve Leite e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo. Se o que está em jogo são vidas, prioridade absoluta, seria indispensável que o governador e o gestor da maior cidade do Estado aparassem arestas e começassem a agir no mesmo sentido. O vírus é um agente infeccioso que conta com a circulação de pessoas para se disseminar. Não é mais possível tergiversar com medidas cosméticas. É chegada a hora de lançar mão de todos os meios possíveis para minimizar deslocamentos desnecessários nas cidades. Esta é uma questão, hoje, de vida ou morte. O apelo vale para todos os demais prefeitos que, mesmo legitimamente contrariados com as restrições temporárias das atividades, precisam compreender a gravidade do momento e o caos logo ali à frente se nada de sério for feito para diminuir os contágios. Por isso, é adequada a decisão do Piratini de suspender a cogestão, evitando flexibilizações e uniformizando medidas em todo o território gaúcho.
O Brasil conta com um presidente que, por exemplo, é incapaz de compreender ou aceitar a importância das máscaras para evitar as contaminações. Se não é possível ter um alinhamento entre os três níveis dos entes federados, que ao menos os municípios gaúchos se somem aos esforços do governo do Estado, que teve de tomar uma decisão dura, que terá reflexos na economia mas neste momento é inevitável. Basta observar o crescimento assombroso do número de novos casos, internações e buscas por unidades de tratamento intensivo (UTIs). Se há agonizantes filas para o ingresso nas UTIs, médicos já têm de escolher quem poderá ter chances de viver e quem será deixado à própria sorte e a tendência é de piora do quadro, é irresponsabilidade ficar de braços cruzados. O julgamento da História tende a ser implacável.
Ampliar leitos de UTI é importante, mas são reiterados os alertas de que não será uma medida suficiente, tanto pela velocidade dos contágios quanto pela falta de equipamentos e recursos humanos. Os dados mais recentes, inclusive, mostram que 60% dos pacientes internados nas UTIs acabam não resistindo. Para vencer esta batalha, portanto, é vital evitar que mais pessoas precisem de tratamento intensivo. A vacinação, grande arma para derrotar a pandemia, é demasiadamente lenta devido à falta de doses. No curto prazo, infelizmente, não é possível contar com a imunização, pela baixa cobertura. O distanciamento social, portanto, segue como a arma mais eficaz neste momento. Passou a hora de, ao menos o Rio Grande do Sul, deixar de lado diferenças, agir com a ciência como guia e unificar um discurso claro à população, contando com a compreensão de lideranças de todas as áreas. Neste momento, toda a energia deve ser direcionada para salvar o maior número possível de vidas.