A descoberta e o desmantelamento de inúmeros esquemas de corrupção nos últimos anos no país, como os desnudados pela Lava-Jato e outras operações, parecem não ter surtido um efeito pedagógico a ponto de inibir novos malfeitos e a continuidade de outra série de crimes contra o erário. Tampouco as condenações exemplares de figurões da política e do mundo empresarial, antes vistos como intocáveis, tiveram o condão de intimidar as comunhões espúrias de larápios de colarinho branco operando dos dois lados do balcão. É assombroso que diversos casos de corrupção brotem e vicejem em vários governos espalhados pelos país, como se houvesse certeza da impunidade.
O caso mais emblemático é o do Rio de Janeiro, Estado que passa a impressão de ser tristemente amaldiçoado por uma peste que contamina todos os seus governantes mais recentes
O caso mais emblemático é o do Rio de Janeiro, Estado que passa a impressão de ser tristemente amaldiçoado por uma peste que contamina todos os seus governantes mais recentes e os leva inexoravelmente à perda de mandato ou para a cadeia. Ao menos, após flagrados, tiveram de prestar contas à Justiça ou ainda estão por sofrer consequências. Antes de Wilson Witzel, afastado pelo Judiciário e às vésperas de sofrer impeachment, cinco de seus antecessores foram presos. Sérgio Cabral está atrás das grades desde 2016 e Moreira Franco, Anthony Garotinho, Rosinha Matheus e Luiz Fernando Pezão recorrem em liberdade.
Diante de tantos exemplos nefastos pregressos, é preciso entender como e por que no Rio de Janeiro – que é espécie de caixa de ressonância de todo o Brasil – se mantêm estruturas arraigadas de corrupção que contagiam todos os poderes e se espalham rapidamente por boa parte do organismo do Estado. No Rio, os desvios endêmicos vêm desde as facilidades vendidas pela corte portuguesa, em um sistema de trocas que privilegia os amigos do poder e permite a convivência da contravenção e agora do crime organizado e das milícias com a política. As suspeitas avançam para a administração municipal da cidade do Rio de Janeiro, atingem ex-prefeitos, vereadores, deputados estaduais e membros do Tribunal de Contas.
De rachadinhas a assassinatos, o grau de deterioração do Rio, um Estado que está no coração de todos os brasileiros e amantes do Brasil, deve servir de alerta permanente sobre os tentáculos da corrupção e do crime mimetizado nas estruturas públicas. Extirpar esse câncer da vida fluminense e impedir que o mau exemplo se repita no país, onde já há sinais preocupantes de metástases, é um dever e uma obrigação moral urgente de todas as instituições sérias do país, independentemente de onde se localizem. Mas nenhuma solução de longo prazo será possível se a sociedade não repudiar de fato a corrupção, inclusive aqueles pequenos delitos e irresponsabilidades do dia a dia, e der em uníssono cartão vermelho àquela politicagem que, apenas mudando o figurino para iludir os eleitores a cada pleito, se adonou do Estado.