Por Vinícius Ambrosini Mendonça, médico de família e comunidade e diretor científico e cultural da AMRIGS
O smartphone mudou completamente a forma como nos relacionamos. O Brasil tem hoje mais de um celular por habitante. Incluindo computadores, notebooks e tablets, são dois dispositivos por pessoa, número significativo para um país em desenvolvimento. É fundamental reconhecermos que estamos no meio de uma revolução digital, na qual a tecnologia tem sido disruptiva em muitas áreas, fazendo da reinvenção uma constante. Além de ser médico, sou paciente e, como consumidor de serviços, me pergunto: se no telefone celular eu tenho acesso a banco, transporte, compras e redes sociais, por que não podemos ter acesso ao nosso médico?
Se no telefone celular eu tenho acesso ao banco, transporte e às compras, por que não podemos ter acesso ao nosso médico?
O assunto telemedicina foi muito debatido pela comunidade médica nos últimos anos; por aprendermos na faculdade que a entrevista presencial e o exame físico são imprescindíveis, especulou-se que a qualidade da prestação de serviço em saúde pioraria, gerando movimentos contrários a essa inovação. Em debate recente, Amrigs, Cremers e Simers constataram que a maioria dos médicos é a favor da telemedicina, porém a falta de um consenso em relação à forma como o Conselho Federal de Medicina tinha elaborado as normativas sobre o atendimento médico a distância incentivou uma mobilização nacional pela revogação da resolução vigente, decidindo-se assim pelo aguardo de uma nova publicação oficial.
Essa longa espera foi interrompida pelo estado de emergência provocado pela covid-19, que, em caráter de urgência, mobilizou o Ministério da Saúde a regulamentar a telemedicina no Brasil. Muitos médicos já estão aderindo às consultas digitais, no objetivo de assumir a responsabilidade em proporcionar mais acesso à saúde à população durante a restrição de atendimentos presenciais decorrente do isolamento social.
Talvez este momento delicado nos permita repensar a medicina que é feita hoje. Há um ditado que diz que o médico deve curar algumas vezes, aliviar quase sempre e consolar sempre. Seguindo esse raciocínio, devemos reconhecer que a consulta presencial não é a única forma de exercermos o nosso papel como médicos na sociedade. A telemedicina pode nos auxiliar a sermos mais produtivos com mais cuidado. Chegou a vez da área da saúde se adaptar ao novo mundo digital na oportunidade mais nobre possível: atender a população em tempos de pandemia. Cuidar de pacientes via teleconsulta, resolvendo o possível a distância e encaminhando para atendimento presencial apenas o necessário, é revolucionário, necessário e salva vidas.