Por Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
Agora, no Brasil, nos preparamos para o muitíssimo provável crescimento exponencial dos casos de infecção por coronavírus. O Instituto Pensi estima que podemos chegar a 4 mil casos em apenas 15 dias e aproximadamente 30 mil em 21 dias após o registro de 50 casos.
É possível que o Brasil necessite de mais de 2 mil leitos nestes primeiros 21 dias. A escalada parece inevitável – tanto é assim, que a OMS declarou o processo como pandêmico na última quarta-feira. A questão, neste momento, é organizar o país na busca por conter ao máximo o contágio e também tratar da melhor forma possível os pacientes infectados.
Neste contexto, enfrentaremos desafios muito sérios em três áreas. A primeira e mais óbvia é a saúde. Nossa estrutura pública de atendimento estará sob pressão, tanto na triagem e testagem quanto no tratamento dos identificados como portadores. Um desafio técnico tremendo, tanto para o SUS quanto para rede privada, que inevitavelmente trabalharão integrados.
A segunda dimensão de atenção é a economia. Considerando a nossa alta taxa de desemprego e o crescimento pífio registrado no ano passado, o coronavírus é um golpe adicional nada bem-vindo e dos mais sérios. É bastante provável que soframos perdas consideráveis de produtividade em função das contaminações e das estratégias de controle como as quarentenas. O Estado precisará adotar, durante e após a crise epidêmica, uma postura muito mais pró-cíclica diante da atividade econômica, ou seja, terá de ser mais generoso com relação aos incentivos econômicos. E não estou falando de reformas estruturais, mas de ações de curto prazo.
O terceiro desafio será na dimensão social. Trata-se da nossa maneira de encarar não apenas a doença, mas os protocolos de prevenção essenciais para nós mesmos e para o próximo. Enfrentar uma epidemia é uma tarefa absolutamente coletiva, que exige empatia e respeito pelo outro. Seja a “etiqueta respiratória” ou o respeito à quarentena, trata-se de um esforço que não diz respeito somente ao indivíduo, mas à sociedade como um todo. Então, o nosso senso de comunidade será colocado à prova.
É claro que estas três dimensões que listei tem interconexões. Mas, para cada uma delas lançamos um olhar diferente. E, justamente por isso, precisaremos estar atentos às três de modo igualmente zeloso. Será um grande teste para todos – e especialmente para o governo.