Por Alfredo Fedrizzi, conselheiro, consultor e jornalista
O vírus não traz só o ruim. Foi depois de grandes catástrofes que o mundo encontrou soluções para muitos problemas. Foi com o sofrimento de muita gente que a humanidade melhorou e nos tornamos mais "humanos". O vírus, que no mundo mata e separa vidas, é também aquele que pode transformar as pessoas. Nossa sociedade, já profundamente dividida pela desigualdade social e política, agora se vê ainda mais distanciada. Não podemos nos reunir, abraçar, beijar, dar as mãos. Nunca mais "voltaremos ao normal". Se fisicamente não é possível nada disso, através de ações podemos muito.
A necessidade de sobrevivência, com a presença da morte muito perto de todos, provoca sentimentos diferentes. Para alguns, fechar-se em casa, encher as prateleiras de comida, enfiar a cara no computador e esperar a tempestade passar. Para outros, o vírus trouxe a solidariedade, a necessidade de pensar naqueles 11 milhões de brasileiros que moram em casas superlotadas e não podem se proteger. Até porque não têm comida nem para o dia seguinte. As desigualdades ficaram evidentes. Se não tivemos ingerência sobre a chegada do vírus, podemos escolher o que fazer diante dele. Que trabalho oferecer? Que amor doar? O que fazer diante de avós que estão isolados, sem os netos por muitos dias? O vírus também gera criatividade e inovações sociais.
Cidadãos comuns, ONGs, startups, coletivos, empresas, pequenos e grandes tomam iniciativas rápidas, cada um com suas possibilidades e talentos. A sociedade se organiza pelo bem comum. Um vizinho serve quentinhas na Restinga. Mulheres criam o Boleto+1, onde alguém pode pagar a conta de quem não tem dinheiro. O Compra-do-Pequeno estimula todos a comprarem de pequenos fornecedores locais. O coletivo Brothers in Arms e a Unicred estimulam doações diretas para hospitais. O Morro da Cruz cria o Moeda do Bem, para a doação de cestas básicas. No Sola Craft Bar, a cada pedido de tele, doam refeição a um morador de rua. A ONG Visão Mundial cria as Caixas de Ternura, com kits de jogos e proteção para crianças. Mauren Motta convida para assistir ao pôr do sol com jazz, online, da janela da sua casa. O curso GIL, da Unisinos, cria projeto para apoiar pequenos negócios. iMED fabrica máscaras para doar a hospitais. A Évora redireciona fábrica para produzir roupas de proteção para equipes de saúde. O Zaffari doa milhões para projetos. A Cimed muda linha de produtos de beleza para produzir álcool gel e doar aos hospitais. A CCM/eventos médicos cria um sistema de apoio psicológico para profissionais de saúde. Músicos fazem shows online. Pessoas cantam e tocam nas sacadas para gerar um pouco de alegria aos vizinhos. Aplausos mundiais aos profissionais da saúde.
No Brasil e no mundo, todos buscam maneiras de superar este tempo difícil. Fomos forçados a nos conectar com a vida real. O medo mútuo proporciona o estreitamento de relações, de conversas mais profundas. O vírus ensina sobre nós e sobre o outro. Passada a pandemia, não seremos os mesmos! Como sociedade, temos a chance de ser melhores. O que posso fazer agora?